Cemitérios de Arcoverde
JORNAL DE ARCOVERDE n.289 – Janeiro/Fevereiro de 2016 – pág.11
Cemitérios de Arcoverde
Pedro Salviano Filho
Hoje a cidade de
Arcoverde tem dois cemitérios: o São Miguel e o São Cristóvão. O São Miguel
fica na av. Pinto de Campos e tem uma extensão chamada Cemitério da Saudade
(que fica na Rua Vereador José Costa Leitão, mais conhecida como 2 de Novembro)
e o São Cristóvão, que fica na Rua Gonçalves Maia. Já na zona rural existem os
cemitérios de Ipojuca, cemitério do Mocó (em Serra das Varas), Cocau (em Aldeia
Velha) e Caraíbas. Mas ainda não tem local específico para velórios.
Para os
pesquisadores, os cemitérios são importantes fontes de informações históricas. goo.gl/8JFg3s
Mas onde eram os
enterros e sepultamentos quando os primeiros habitantes da nossa região
faleciam? Essa prática era junto à capela de N.S. do Livramento e seguia o
costume desenvolvido pela Igreja Católica desde a Idade Média. «Diferente dos romanos e gregos, que sepultavam seus mortos fora das
cidades, por exemplo, na via Ápia, os cristãos introduziram o costume de
enterrar seus mortos dentro dos templos ou em terrenos sagrados, próximos aos
santos e mártires da Igreja» https://bit.ly/3eqlwc7. «...os
sepultamentos dentro das igrejas foi algo que permaneceu até a segunda metade
do século XIX. Durante
este período, os Cemitérios Públicos eram órgãos financiados
pelas câmaras municipais,
mas a sua
jurisdição estava submetida
à Igreja Católica».
goo.gl/Qk2bf7.
Somente no início do século 20
é que uma missão dos padres capuchinhos implantou o primeiro cemitério em nossa
Olho d´Água dos Bredos, localizado no triângulo da Great Western.
Mas foi há quase 100 anos, em
1919, que, diante das epidemias da época e por pressão dos sanitaristas, o
então prefeito de Pesqueira teve que construir um cemitério na avenida Pinto de
Campos, na vila São Miguel, na então vila Rio Branco.
Cronologia
Cimbres, Nossa Senhora das Montanhas, livro de Óbitos 1843-jan.1853 goo.gl/JWyKON .
Esta coluna
já apresentou documentos que revelam algumas informações que resgatam dados
históricas sobre os cemitérios da nossa Arcoverde (ver planilha bit.ly/2K5AhUh).
1843 – goo.gl/YucBQK - O
vigário interino de Cimbres realiza os primeiros batizados na Capela de Olho d´Água, Livro de Batismos 1842-1846
– Cimbres (imagem 20/114). Ainda quando as famílias das poucas
casas que compunham nosso pequeno povoado de Olho d´Água, na primeira metade do
século 19, faziam os batizados dos seus filhos, o primeiro livro de batismo (1842-1846)
da Igreja N.S. das Montanhas, em março de 1843, assim documentou que o vigário
interino de Cimbres, padre Manoel José
dos Prazeres, fez os primeiros batizados dos moradores de Olho de Água em março
de 1843 e, em meses seguintes, na mesma capela, dos moradores das fazendas
Fundão, Carrapateira, Malhada, Pingadeira e Arara. No dia 20 de maio os
padrinhos de batismo são Leonardo Pacheco Couto e sua esposa Ana Antônia
Cordeiro, moradores na fazenda Santa Rita.
«Maria,
parda, de trinta anos, filha legítima de Joaquim José, faleceu da vida presente
no dia dois de junho de mil oitocentos e quarenta e quatro, sendo envolta em
hábito branco, foi encomendada pelo reverendo José Domingues da Silva e Cunha,
sepultada na Capela Olho d´Água onde
era moradora; do que mandei fazer este assento que assino. Pe. Manoel José dos
Prazeres, Vigário interino.» Registros nesta
ocasião foram feitos para Gertrudes Maria de Oliveira (30 anos, casada com
Caetano Marinho dos Santos), Francisco (mestiço), Domiciana, e Severino, todos
sepultados na Capela de Olho d´Água, que ainda tinha o primeiro topônimo de
Arcoverde.
1860 - Livro
de Óbitos 1865-1899 – Cimbres (imagem 21/91) goo.gl/LZoLKX -
Já com seu segundo topônimo, a povoação de Olho
d´Água dos Bredos tem a documentação de registro de óbito e reforma o
sepultamento junto à capela da N.S. do Livramento. «Aos vinte
e quatro de abril de mil oitocentos e sessenta e sete me foi entregue com
encomendado Exmo. Ver. Senhor vigário capitular Joaquim Francisco de Farias o
qual é do teor seguinte: Manda ao reverendo pároco de Cimbres que adiante por
mim assinado, abra no respectivo livro, o óbito de Maria Joaquina Cordeiro,
casada que foi com José Domingos da Silva da Cunha, por ter esta justificação
perante mim, ter a dita sua mulher falecido a trinta de junho de mil oitocentos
e sessenta, e ter sido sepultada na Capela de Nossa Senhora do Livramento da Povoação de Olho d´Água dos Bredos,
filial da referida freguesia de Cimbres. Dado no Palácio da Soledade aos 11 de
abril de 1867. Doutor Faria. E para constar fiz este assunto que assino. O
Vigário Domingos Leopoldo da Costa Espinosa.» [Mais informações: https://bit.ly/2NibQ7A].
1906 - Uma missão dos padres capuchinhos na região,
naquele ano, começou por Buíque, goo.gl/PbgzCB, 5ª col: «Na
tarde do dia 4 deste mês seguiram os rev. missionários para o arraial de S.
Domingos desta freguesia [Buíque] acompanhados por 300 cavaleiros, inclusive o
rev. vigário. Em S. Domingos, onde existe uma igrejinha, os revds. missionários
estiveram 3 dias sem haver tempo para repouso, tanto foi a fluência de fiéis
para confissão. Foi marcado terreno para cemitério constante de 40 braças, cujos
alicerces ficaram prontos». Depois foram para Pedra, em 9-7-1906, goo.gl/TcWmCU, 5ª col. A Pedra já possuía
seu cemitério público desde 1889 [https://bit.ly/2zUVBdR]. Em
seguida a missão, sempre comandada pelos padres capuchinhos frei Gaudioso e
frei Daniel, foi para Olho d´Água dos Bredos.
19-08-1906 – A Província, goo.gl/LJxeFX, 5ª col.: Sobre o segundo cemitério: Data da construção
29-07-1906: «Em oito dias de missão os missionários construíram e edificaram o
cemitério deste povoado, caiou-se, limpou-se a igreja que causa-nos pena
dizer... estava muito suja! No dia 29, último dia da missão, houve benção
solene do cemitério e do cruzeiro que lá foi erigido, falando no momento o
talentoso frei Gaudioso.» Mais: https://bit.ly/37OwfuG. Só em 1909 o povoado Olho d´Água dos Bredos
passa à categoria de vila.
19-03-1912 – https://bit.ly/2Nn1wLU, Olho d´Água dos Bredos muda para o
topônimo Barão do Rio Branco e sua
esperada estação ferroviária já recebe o novo nome.
1919
– Criação da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento de Rio Branco, cujo
primeiro vigário foi o padre José Kherle (1891-1978). https://bit.ly/2Nh3oWq .
23-02-1919 - Primeiro registro na Igreja N.S.
do Livramento goo.gl/1EdtJf , Batismos 1919-1922, imagem 3/156: «Aos vinte e
três dias do mês de fevereiro de 1919 nesta Matriz de Rio Branco, bispado de
Pesqueira, batizei solenemente o párvulo "José" nascido em .. de
fevereiro de mil novecentos e dezenove; filho legítimo de Antônio Felipe de...
e Joana Ferreira de Freitas, sendo padrinhos José Bezerra dos Santos e ...
Maria da Conceição. E para constar lavrei este termo que assino. Padre José
Kehrle, Vigário. »
31-12-1919 - Diário de Pernambuco, goo.gl/xt1xHB , 3ª.col.: [...] Construção do cemitério Pinto de Campos – 4ª col. 31-12-1919
Pesqueira. « [...] Por solicitação do dr. Baptista[?] da
Silva, ilustre inspetor sanitário estadual, que por determinação da inspetoria
da higiene esteve em Rio Branco, a serviço de combate à influenza espanhola,
construímos um cemitério naquela vila com o qual foi dispensada a quantia de
2:200$000. [...] Enormes foram as despesas que fomos forçados a fazer com o
saneamento no município, durante a administração que hoje finda pois, durante
esse período foi a vila do Rio Branco atacada de febre de mau caráter, por
varíola mais de uma vez e pela influenza espanhola (gripe) que grassou também
com muita intensidade nesta cidade e em quase todos os distritos do município [...].»
Av. Pinto de
Campos, onde fica o Cemitério São Miguel – foto do acervo O. e C. Neves, por
cortesia do Sr. Carlos Carvalho (Recife). Atualmente: goo.gl/maps/ca29p .
1931 – Começa no Cartório de Registro Civil o registro
de óbitos – goo.gl/DzRLXt (sepultamentos no cemitério público de Rio Branco). Os registros de óbitos
passaram a ser anotados em 13 de janeiro de 1931 (1º registro de óbito) por
Germano Magalhães Santos.
1934 -
Necrotério Municipal. Governo Revolucionário de Rio Branco. Cemitério São
Miguel. goo.gl/v0Z2si .
Cemitérios em livros sobre Arcoverde:
Minha cidade, minha saudade, de Luís Wilson,
Recife, 1972, pág.218: «Brincando no quintal da velha
casa, no tempo da “comadre” Ritinha, vez por outra eu estava dentro de uma
cova. Tenho a impressão de que ficava naquele local [no Cuscuz, do outro lado
dos trilhos da Great Western] o
segundo cemitério de Olho d´Água dos Bredos. O primeiro foi ao lado da
Igrejinha de Nossa Senhora do Livramento, onde também, no jardim da casa do Pe.
Joãozinho, brincando depois do catecismo, a gente esbarrava, certas ocasiões,
em cima de uma catacumba. O terceiro é o atual, na estrada de rodagem que vai
para Buíque. »
Arcoverde. História
político-administrativa, Sebastião Calado Bastos, Brasília, 1995,
pág. 74: https://bit.ly/31a8ThF. «A administração Luís
Coelho, mesmo com parcos recursos, removeu uns restos de jazigos do antigo
cemitério existente no triângulo da Great
Western, construiu o necrotério no cemitério da Pinto de Campos, no qual
colocou um portão de ferro em substituição ao de madeira que lá existia. »
«A antiga Igrejinha de Nossa
Senhora do Livramento, numa tarde de “Missões”, em 1929 (Arq. da negrinha Quitéria de “seu” Vicente Gomes ». Minha
cidade, minha saudade, de Luís Wilson, Recife, 1972, Pág. 121. Até o início do século 20 era ao lado
dela onde se faziam os sepultamentos.
Foto da matriz de N.S. do Livramento, de Arcoverde. Foto PSF, 2015.
Sobre a
localização do segundo cemitério de Arcoverde, o Sr. Antônio F. Moreno nos
revela: «As pessoas mais antigas dizem que onde
ainda existem os trilhos do triângulo de manobras de trens da Great Westen, foi
cemitério. No tempo de Antônio Franklin como prefeito, ele transformou o local
em parque, denominando-o de Virgínia Guerra, em homenagem a esposa do então
governador Paulo Guerra. Mais recentemente, transformou-se em praça, denominada
de Winston Siqueira. Não é propriamente em frente ao antigo prédio da Sanbra, é
mais na lateral que vai dar no Colégio Carlos Rios.» Foto PSF. 2015.
Necrotério Municipal,
construído em 1934. Foto PSF, 2015.
Cemitério Jardim da Saudade,
uma extensão do Cemitério São Miguel. Foto PSF, 2015.
Cemitério
São Cristóvão, no bairro do mesmo nome. Foto PSF, 2015.
Foto
PSF. 2015.
Aspecto
interno do Cemitério S. Cristóvão. Foto PSF. 2015.
Cemitério
do Cocau, em Aldeia Velha. Foto Jornal de Arcoverde, 2016.
Cemitério
de Caraíbas. Foto Jornal de Arcoverde, 2016.
Cemitério
do Mocó, em Serra das Varas. Foto Jornal de Arcoverde, 2016.
Sobre o
cemitério do povoado Ipojuca, o Sr. Luiz Carlos Britto Cavalcanti, autor do
livro “Ipojuca: sua história, sua gente”, S. Luiz-MA, 2010, em comunicado
pessoal, revela: «Não sei quando o cemitério de Ipojuca foi construído. Desde
que me entendo de gente ele já existia. Creio que ele é do tempo da fundação do
povoado. Sei que tem muita gente lá sepultada, a maioria Britto, incluindo o
coronel Arcelino. O cemitério já tem um anexo (ampliação que aconteceu a cerca
de 6 anos). Ele fica a uns 400 metros da igrejinha. Os primeiros ipojucanos
eram descendentes de espanhóis, mas deixaram poucas informações.” E, sobre a
foto (do saudoso J.Randolfo Britto) ele comenta: “Esse é o
cemitério atual com o anexo. Já foi reformado e mudaram o portão de entrada que
era voltado para o povoado. A catacumba do coronel Arcelino e de alguns
familiares , parece ser a cinza do lado esquerdo da foto. »
Parabéns ao Dr. Pedro Salviano Filho pelo brilhante registro histórico .
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