Cuscuz e rua de Mãe são transformados em Cidade Alta
Cuscuz e rua de Mãe são transformados em Cidade Alta
Por Pedro Salviano Filho
A hoje rua Idelfonso Freire
foi, por volta dos anos 40, a rua de Mãe, paralela à rua Augusto Cavalcanti
(que depois foi compartilhada com o segmento Alcides Cursino), chamada no
início de Cuscuz. Incomodada pela presença de prostitutas que ocupavam a
rua de Mãe, a sociedade recorreu ao capuchinho Frei Damião para reverter aquela
situação. A estratégia: renomear as ruas para Cidade Alta, abolindo a rua de
Mãe e Cuscuz. Assim, com o desenvolvimento do Bairro São Cristóvão, as
“meninas" tiveram que se mudar para aquele novo e próspero local, rico de
caminhoneiros. (Sobre o Bairro São Cristóvão de Arcoverde veja https://bit.ly/3i0EAQE).
Minha cidade, minha saudade. Recife, 1972, Luís Wilson. Pág. 119
« […]”Depois
foi que apareceu Frei Damião batizando todo mundo, confessando, dando comunhão,
casando os amancebados, mandando fazer penitência e ameaçando, vez por outra,
com o fogo do Inferno.
A notícia da chegada do grande capuchinho espalhava-se como que por
encanto e o sertanejo, suspenso à sua palavra, o escutava meio assombrado.
Acreditam, no sertão, que o Diabo tem mais medo de Frei Damião que dos outros
frades.
Um belo dia, o bom sacerdote, em um sermão, perto da venda de Otacílio,
pediu ao povo para acabar, daquela data em diante, com o nome de - “rua de
Mãe”.
“Comadre" Ananias (viúva do major José Amaro) foi quem construiu a
antiga rua, no Cuscuz, da qual “as mulheres” depois tomaram conta. Meu velho
amigo e colega, do Ginásio de Garanhuns, Altamiro Amaro, quando estavam
construindo, ou depois de construída a “ruazinha”, naquele tempo, solteiro, e
chegado a uma cerveja, quase todo dia
chamava um amigo, lá embaixo, para tomar “umas e outras”, na rua que a mãe
havia construído, ou na “rua da Mãe”. Ficou, então, “rua da Mãe”.
Mas, não era possível, disse Frei Damião, naquele dia, que se
continuasse a chamar “rua de Mãe” àquela que era a rua de todos os pecados daquele
mundo”… Mãe era uma coisa sagrada, falou o velho frade. - “Chamem Cidade Alta,
chamem todos Cidade Alta”, e tudo, na realidade, ou tudo quando era rua do
Cuscuz, ou o Cuscuz inteiro, depois daquele dia, ficou sendo Cidade Alta”. »
Frei Damião, atendendo à solicitação de um grupo católico liderado por
Elizeu Magalhães, fez campanha para que a rua de Mãe e o Cuscuz passassem a se
chamar Cidade Alta. Em 2008 Arcoverde o homenageou com rua (goo.gl/oFnAk5 ) e
praça (goo.gl/VbdD6A).
Algumas informações sobre Frei Damião:
17-01-1941 - Diario de Pernambuco.
Reaviva-se o misticismo das populações do interior no nordeste. Bandos de
penitentes invadem as estradas para ouvir a palavra de Frei Damião. A vida
febricitante de um pálido capuchinho. Por Octacilio Nóbrega de Queiróz: goo.gl/LPgdPd e goo.gl/tuADwt
Vídeos :
2015 – Especial
Frei Damião - Parte 1: goo.gl/4Z24Qa ; Parte 2: goo.gl/zoXC4f ; Parte 3: goo.gl/JTSxwW .
1943 - Município de
Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e outras notas. Luiz Wilson. 1982 - pág. 160:
«No dia 17 de
abril, no trem da tarde, Frei Damião Bozzano chega outra vez a Rio Branco para
missões que se prolongaram por toda a “Semana Santa”.
Na terça e na quarta-feira pregou no “Cuscuz" e foi, então, que
pediu a multidão que o ouvia que não chamasse mais “Cuscuz”, nem “Rua da Mãe”… Chamem
“Cidade Alta”, chamem a tudo “Cidade Alta”.
Na quinta e na sexta-feira pregou em frente a igrejinha de Nossa Senhora
do Livramento. No sábado, a um lado da "Estação”, da sacada de uma casa. “Realizou
numerosos casamentos de amancebados e sete mil comunhões. […]»
Arcoverde. História
político-administrativa, Sebastião Calado Bastos, Brasília, 1995. Pág. 132
« […]”Um fato
pitoresco merece ser inserido nesse capítulo, por ter ocorrido nesse período. A
Cidade Alta era chamada de Cuscuz. Aí se localizava uma artéria que as pessoas
passaram a chamar de Rua de Mãe. Como era um local conhecido como pecaminoso,
algumas pessoas achavam que não se deveria misturar “mãe" com tal
ambiente. Essas pessoas procuraram uma forma de solucionar o problema.
Tendo à frente Elizeu Magalhães, um pequeno grupo procurou Frei Damião,
que numa época junina estava mais uma vez na cidade pregando as Missões.
Ressalte-se que para ouvir seus sermões, praticamente toda a população católica
se comprimia perante o Capuchinho.
O plano foi armado. Achando justa a reivindicação, Frei Damião dispôs-se
a colaborar. No auge de suas perorações, quando as admoestações daquele que
sempre foi muito respeitado no Nordeste faziam todos sentirem, já, o calor das
labaredas do inferno, corta o ar a terrível sentença: “De hoje em diante
ninguém mais chama aquele antro de vício de rua de mãe. E nem essa parte da
cidade será chamada de Cuscuz (uma outra reivindicação da comissão que o
procurara). Tudo isso passa a ser Cidade Alta. Quem assim não proceder, vai se
queimar no fogo do inferno”. Estava extinta a “rua de mãe”. Extinto estava o
Cuscuz. Frei Damião assim o decretara.
Luís Wilson, em uma de suas obras, conta esta história, referindo-se à
“rua de mãe”. Entretanto, não cita o presidente da comissão, Elizeu Magalhães.»
«Arcoverde de
então, no começo do seu desenvolvimento, limitava-se à rua principal; a Rua
Velha do lado de baixo que ia até à ponte de Buique e depois dela, só existia
aquela linda casa no alto – sede da propriedade de Seu Sálvio Napoleão -;
e do lado de cima, a Rua da Linha que ia até o triângulo onde as locomotivas
faziam a manobra para regressar, sem esquecer que a cidade começava na Estação
da Great Western e terminava logo depois do DNOCS, naquela transposição da
linha do trem bem antes da praça do Bandeirantes.
Naquela altura, do lado de cima da estrada de ferro existia apenas uma
pequena rua, chamada de Rua de Mãe, porque as casas pertenciam à mãe de Altamiro
(reconhecida pelo estranho nome de D. Ananias), oficial de cartório, grande
boêmio e eterno frequentador da rua, pois nela se localizava a chamada “zona do
baixo meretrício”. Será que alguém poderia me apontar uma “zona do ALTO
meretrício” e confesso que a despeito de minha idade avançada, nunca encontrei
uma?
Evidente que, até pela sua conformação, a Av. Cel. Japiassú abrigava a
quase totalidade das atividades das principais instituições da cidade. O Hotel
Bolieiro (em frente à estação); o ateliê do fotógrafo Seu Otaviano; Cine Teatro
Rio Branco pertencente a Dr. Pedrosa; o Hotel Majestic ( já com essa
denominação num chalé com uma grande varanda de lado e pertencendo a Dona Licô,
casada com o famoso Noé Nunes Ferraz e matriarca de uma família digna); a
Livraria e Tipografia Prima ( de Antônio Napoleão, por quem tenho uma especial
estima e recordação – depois eu conto); a Casa Sálvio Napoleão, dirigida por
alguns de seus filhos, grandes amigos e muito representativos de Arcoverde; o
famoso Bar e Sorveteria Confiança , pertencente a Noé, e que foi cultuado na
história de Arcoverde como marco na tradição na cidade (merece um livro só para
seus causos); o Cartório de Clovis Padilha; a sede do DNOCS, então
chamada de Inspetoria, e a residência do seu Diretor (a chegada desse
órgão na cidade e dos seus funcionários, em grande parte oriundos dos
grandes centros, causou uma verdadeira revolução nos seus costumes, sem contar
os casamentos que garantiu às moçoilas da terra); a padaria de Seu Cícero Franklin,
a farmácia de seu Florismundo. Enfim, é muita recordação e muita saudade!»
O CUSCUZ
Em 17-01-1934 já apareciam, à direita, as primeiras construções na “rua
Augusto Cavalcanti – Rio Branco” (como está anotado). Nesta foto histórica, à
esquerda, aparece uma pequena parte do curral de embarque de gado que era
realizado pela Great Western (https://bit.ly/31cRKnz ), onde depois
foi construído o Cinema Bandeirante. Os trilhos ai estão desde 1912 https://bit.ly/37WUEhH ). Nesta
época, 1937, a energia elétrica, através dos postes de trilhos, era fornecida
pela SANBRA ( https://bit.ly/2Bzgk7m).
O Banco do Povo S/A (hoje Bradesco) foi inaugurado em 9 de julho de 1952
(goo.gl/9Qmske 7ª col.), na
esquina da rua Augusto Cavalcanti. Imagem original já mostrada nesta coluna, em
2013, “Retratando Arcoverde”: goo.gl/CWDitz e goo.gl/nSzHLa .Foto acima colorizada.
Rua Alcides Cursino, seguindo-se da
Augusto Cavalcanti, em foto do Jornal de Arcoverde, de fevereiro de 2019.
São paralelas à rua Idelfonso Freire (antiga rua de Mãe). Mapas:
goo.gl/aUdDSV e goo.gl/5rTSL4.
Rua Augusto Cavalcanti. O Sr. Antônio Moreno sugere que esta foto foi tomada
do Hotel Sertanejo. No canto esquerdo aparece a Padaria e Mercearia Tupan, onde
hoje está o Banco do Brasil. Ao fundo se vê a linha férrea. Temos ai o
verdadeiro Cuscuz. Foto colorizada.
Ainda com observações do Sr. Moreno, aqui aparece um trecho mais acima da rua Augusto Cavalcanti, após o Hotel Sertanejo, que ficava na esquina com a av. Severiano José Freire. Vê-se também a bomba de gasolina que ficava do lado oposto à mercearia de Jerônimo Chagas. Foto colorizada.
RUA DE MÃE, hoje
Rua Idelfonso Freire em foto do Jornal de Arcoverde, fevereiro de 2019.
Streetview -
Rua de Mãe, Idelfonso Freire, na atualidade -: goo.gl/ZR82vb , Cruzeta: goo.gl/ADr7E3 , goo.gl/h1xd8Q
O Cuscuz iniciava-se
no atual Bradesco, Rua Alcides Cursino, goo.gl/h9ye64 prosseguindo pela Rua Augusto Cavalcanti: goo.gl/EXUwk9
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