Energia elétrica em Arcoverde
JORNAL DE ARCOVERDE n.300 – Novembro/Dezembro de 2017
Energia elétrica em Arcoverde
Pedro Salviano Filho
Foi em dezembro
de 1919, um mês após seu casamento, que o dinâmico empreendedor, cel.
Augusto Cavalcanti, inaugurou a luz elétrica, essencial para o funcionamento do
Cine Rio Branco, outra novidade sua, na então Vila Rio Branco (terceiro
topônimo de Arcoverde).
Como postes de iluminação, eram utilizados trilhos
da rede ferroviária que aparecem em muitas fotos da época.
O rápido desenvolvimento econômico que ocorria
tornou o singelo motor, movido a óleo, insuficiente para acompanhar o ritmo,
fazendo os gestores procurarem alternativa, em 1929, nos motores da Sanbra,
que durou até 1948, quando a iluminação pública de
Arcoverde passou a ser fornecida pela Elfasa
(Empresa de Luz e Força de Arcoverde), sociedade de iniciativa particular.
Com a
inauguração, em 15 de janeiro de 1955, da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso, finalmente
surgia a solução para o grande problema da energia elétrica em toda região.
Na gestão do prefeito Murilo de Oliveira, em 1956, começava a construção
da rede de alta tensão para, no dia 1º de março e 1957, ocorrer a inauguração, com a chegada definitiva da luz da Chesf.
Este recorte
do jornal carioca Correio da Manhã,
do dia 02-01-1920
– goo.gl/2psxPF,
7ª col. novamente esclarece a data correta das inaugurações da luz elétrica e do cinema em Arcoverde: dezembro de
1919. Mais informações: https://bit.ly/2XdYjm3
.
.
Foto de 1933/34, do livro Município de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e Outras Notas. 1982.
Luís Wilson. Ao fundo o “Serrote do Cruzeiro”. No prédio à esquerda do “Beco
do Motor da Luz” (depois conhecido como “Beco do dr. Luiz Coelho”), era onde
ficava o motor. Atualmente é Rua Vitorino José Freire: goo.gl/C9FwA6
Primeira fachada, onde aparece o nome “Cinema Rio Branco”. Detalhe de foto
de 1932, do livro Município de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia
e Outras Notas. Pág. 176. 1982. Luís Wilson.
Pesquisando o
tema em algumas publicações compartilhamos os fatos a seguir com os leitores:
15-01-1920 - Jornal
do Recife ,goo.gl/Wa1FEI , 7ª col.: «[...] - O
cinema "Rio Branco" tem proporcionado encantadoras
"soirées" aos seus "habitués". A luz elétrica, quer
pública, quer particular, fornecida pelo coronel Augusto Cavalcanti, continua
regular, esperando este cavalheiro entrar em acordo com o município afim de
melhor servir ao público em geral. Presentemente o coronel Augusto Cavalcanti
fornece gratuitamente a iluminação pública o que vem provar a sua boa vontade
de colaborar no progresso de Rio Branco. Rio Branco, 11-1-1920 (Do Correspondente).
»[Sobre o cinema https://bit.ly/2Tk4jbP].
Arcoverde. História
político-administrativa, 1995. Brasília-DF. Sebastião Calado Bastos.
Pág. 54 - «O Cel. Antonio Japyassu, em 1929,
assinou um contrato com a Sanbra (Sociedade Algodoeira deu Nordeste
Brasileiro), para fornecimento de luz elétrica. Como consequência, a cidade
passou a dispor de um melhor serviço de iluminação pública e particular.»
Pág. 79 - «Ocorrendo um colapso no sistema de luz da cidade, o dr. Luís Coelho e
alguns amigos, mesmo enfrentando dura oposição,
conseguiram reabilitar-se-lo, sendo pois fundador e presidente da Elfasa -
Empresa de Luz e Força de Arcoverde S/A.
Estava
solucionado o problema de energia, pois essa empresa prestou inestimáveis serviços
até a chegada da Chesf.»
Pág. 122: «[Severiano José Freire Filho] Em 26 de outubro de 1947 foi eleito
prefeito do município,"[...] Também durante sua administração,
particulares fundaram a Elfasa (Empresa de Força e Luz de Arcoverde S/A) pois a
energia elétrica era fornecida à cidade com bastante deficiência pela Sanbra,
que tinha contrato assinado com a prefeitura desde 1929.»
Pág.142. «[...] Já estando Murilo à frente dos destinos de Arcoverde, o velho Diário de Pernambuco de março de 1956
noticiava que o Secretário de Viação, após despacho com o
Governador Interino José Francisco, autorizara a construção da rede
de alta tensão da cidade, bastando que a Chesf levasse até o município a linha
de distribuição. E que a verba para esses serviços seria repassada pelo Fundo
de Energia Elétrica, O Secretário Leal Sampaio declarava aos jornalistas que o
Estado se encarregaria da construção da rede na cidade cuja potência seria
igual à da Capital (13.800 kilowatt) em 60 ciclos.
Por essa
ocasião o Dr. Paulo Parisio, que representava a Chesf no Estado, informava ao
prefeito que os três transformadores já se encontravam em Recife e que a
Companhia já estava providenciando a ligação dos cabos condutores de Pesqueira
a Arcoverde.
Em 23 de
junho de 1956, através de ofício, o prefeito dirigia-se ao Gal. Carlos
Berenhouser Junior, Diretor-Comercial da Chesf, dando conta das providências
que a prefeitura estava adotando, como a remodelação da rede distribuidora e a
chegada de grande parte do material necessário, ou seja, postes, fios,
isoladores e cruzetas. Logo em seguida, dia 28, o Dr. Berenhauser enviava do
Rio telegrama ao prefeito Murilo de Oliveira, congratulando-se com este
pelos esforços empreendidos, o que possibilitava abreviar o prazo para a
chegada da luz elétrica ao município.
No mês
seguinte, em julho, Murilo esteve em Paulo Afonso com o Dr. Alves de Souza,
presidente da Chesf, ocasião em que essa autoridade prometeu chegar com a linha
de transmissão a Arcoverde no mês de novembro. Entretanto, dificuldades
técnicas não o permitiram.
Em setembro
de 1956 o diretor do DAE, engenheiro Telmo Maciel, através do ofício n. 1.101
informava ao prefeito a pretensão do Governo em administrar diretamente os
serviços de energia, com a criação do Serviço de Industrialização de Luz e
Força de Arcoverde (Silfa), como consequência da encampação da empresa
fornecedora de energia elétrica.
Nesse mesmo
mês estiveram na cidade os engenheiros Gadelha e Nigri, da Chesf, para o acerto
em definitivo da questão do terreno destinado à instalação da
subestação abaixada que serviria a cidade de energia farta e barata.
A esta
altura surgiria um complicador. Escolhido o local, formou o prefeito uma
Comissão de três pessoas (Pedro de Oliveira, Félix de Paiva e Secundino Lúcio
dos Santos), para que fosse avaliado o terreno onde seria instalada a
subestação. A prefeitura necessitava desapropriar um hectare no Bairro da Boa
Vista, de uma propriedade de dois mil hectares entre Pesqueira e Arcoverde.
Essa área, a
ser doada à Chesf, foi avaliada em trinta mil cruzeiros. O proprietário exigia
cem mil. Nem um centavo a menos.
Não houve
como conciliar o preço exigido e o estipulado pela Comissão. Teve Murilo
que recorrer à Lei n. 3.365, de 21 de junho de 1941, editada por Getúlio
Vargas, dispondo sobre desapropriações por utilidade pública. Verificando-se os
arquivos da prefeitura, ficou constatado que o proprietário da gleba de dois
mil hectares pagava impostos com base em declaração de que o mesmo valia hum
mil cruzeiros.
Baixou então
o prefeito a Lei Municipal n.331, de 16 de novembro de 1956, desapropriando,
por utilidade pública, uma gleba de terra medindo 100 x 100 metros, a ser
desmembrada da Fazenda Boa Vista, da propriedade Aldeia Velha, destinada à
construção da subestação da Chesf, por Cr$ 5.000,00. Como o proprietário não
concordava com esse valor, foi feito o depósito em seu nome no Banco do Brasil
Com base no
Decreto Municipal n. 1, de 17 de novembro de 1956, o chefe do executivo assinou
a respectiva escritura pública de doação à referida Companhia.
Essa
atitude, necessária para que Arcoverde recebesse a luz de Paulo Afonso,
causou sérios transtornos políticos ao prefeito, em vista do rompimento que
se verificou tanto com o proprietário do terreno quanto com o próprio
vice-prefeito, entre outros.
Por se
tornar necessário readaptar a rede elétrica, vários problemas técnicos foram
enfrentados junto ao Departamento de Águas e Energia da Secretaria de Viação e
à Chesf.
Em dezembro
de 1956 a rede de transmissão Pesqueira-Arcoverde, confiada à firma
"Morrison", já estava instalada. No perímetro urbano estava em fase
de conclusão o primeiro circuito, que partia do Bairro da Boa Vista em demanda
à Av. Pinto de Campos. Em seguida eram iniciados os trabalhos o segundo
circuito, o qual terminava no depósito da Shell, próximo ao Campo de Aviação.
Além da
doação do terreno para a subestação, a prefeitura cedeu um prédio para o
almoxarifado do DAE e colocou pessoal e material à disposição desse
Departamento.
Valeo o
esforço, justiça se faça. O determinismo de Murilo estabelecera o fiat lux. E numa sexta-feira, dia 1º de
março de 1957, em Arcoverde fez-se luz.
A Avenida
Zeferino Galvão (Rua da Linha) era o cartão postal da cidade para aqueles que
viajavam de trem.
O prefeito
Murilo preocupou-se com o aspecto plástico dessa artéria, visando mostrar a
realidade da urbe.
Empreendeu,
então, a construção do cais dessa avenida, obra esta que seus adversários e
detratores insistem em citar como sua única realização.
Como infraestrutura
dessa obra, foi construída uma galeria de médio porte, com cerca de oitocentos
metros de extensão, indo do prédio da antiga Pinto Alves até a residência
de José Bezerra, toda escavada em moledo duro e recoberta com lajões,
sobre a qual foi colocado o calçamento. Também ali o governo municipal
construiu a extensão da rede abastecera de água, em ferro fundido de
três polegadas, assentada pela calçada do lado par, derivada da tubulação de
oito polegadas à altura do prédio da Sanbra, atual Cecora.
A
arborização em flamboyant, nas
laterais e centro da avenida, foi feita a partir de pequenas mudas cedidas pela
prefeitura de Recife.
Há de se
registrar que o governo municipal teve de enfrentar um grande problema em
relação a essa obra.
A Rede
Ferroviária do Nordeste (RFN) embargou a construção do Cais da Rua da Linha, exigindo vinte metros para cada lado da linha
férrea.
Acionado
pelo prefeito Murilo de Oliveira Lira, o Cel. José Bezerra resolveu a demanda,
junto ao Ministro José Américo. [...].»
Nos nove
meses que antecederam a inauguração informa-se que Arcoverde ficou sem energia
elétrica.
Minha cidade, minha saudade. Rio Branco (Arcoverde). Reminiscências. 1972.
Luís Wilson
Pág. 306 - «Os postes da iluminação pública
eram poucos e de trilhos da Great Western. Lá no alto, uma lâmpada de 5 ou 10
velas, com um chapeuzinho em cima. Quase em frente à nossa casa, exatamente na
divisa do chalé do dr. Leonardo Arcoverde com a atual residência do dr. Luiz
Coelho, havia um daqueles postes, onde eu, à noite, e mais dois ou três amigos,
batíamos, às vezes, com uma moeda, das grandes, de 200 réis, e era uma batucada
que devia encher todo o mundo. No fim da rua, na entrada do beco que vai para
Buíque, recordo-me de outro poste, embaixo do qual conversava, até altas horas,
o meu velho amigo Mário Caboré. Só subia para a "Vila Almerinda" depois
que a luz dava o sinal de apagar-se.»
Município
de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e Outras Notas. 1982. Pág. 176, Luís
Wilson.
Pág.86. «[...] Ainda em 1917 [1919], Augusto Cavalcanti (Augusto Mouco), ilumina
também com luz elétrica a sua cidadezinha. O motor ficava no beco que dá
passagem de nossa atual av. cel. Antonio Japiassu para a rua Velha, hoje,
"Beco do dr. Luís Coelho. Era antes o "Beco do motor da luz”. Nossas
ruas não foram iluminadas antes com campeões de gás, como aconteceu com as do
Recife, as de Pesqueira e as de outras cidades do interior do Estado, não tendo
tido, assim, Olho d'Água dos Bredos ou Rio Branco, em outra época, o seu
"acendedor de lampiões". [...] Ainda naquele ano de 1917, a Rua Velha
(nossa primeira rua, passa a ser denominada "Rua Leonardo Pacheco Couto”.)»
Pág. 103 - «A Sanbra, cujos edifícios foram inaugurados no dia 8-12-1919, era nosso
principal estabelecimento fabril, acionado por dois motores Deutz de 265 HP,
mantendo no período da safra cerca de 200 operários.»
Pág.
122: «1929 - «O cel. Antonio Japiassu, prefeito do município,
assina um contrato com a "Sanbra" para o fornecimento de luz elétrica
a Rio Branco, que passa a ter um melhor serviço de iluminação pública e
particular. Com o velho motor do cel. Augusto Cavalcanti ficávamos, vez por
outra, 10, 15 e 20 dias sem luz. Voltávamos às candeias de azeite, às velas
(primitivamente de sebo, depois de cera e depois, ainda, de estearina ou de
espermacete), aos bicos de "carbureto", de ótima luz (mais utilizados
em nossas casas de comércio, das 5 e meia ou das 6 às 8 e às 10 horas da
noite), aos alcoviteiros (candeeiros de flandeiros, surgidos depois que na
quarta década do século passado apareceu o gás líquido ou o querosene), aos
candeeiros com mangas de vidro, de parede, ou de suspensão (a estes últimos
chamados "candeeiros belgas") e às lâmpadas à álcool.»
Pág. 167: «1948 - A iluminação pública de
Arcoverde passa a ser fornecida pela Elfasa (Empresa de Luz e Força de
Arcoverde), sociedade de iniciativa particular, fundada a 28 de junho, por
elementos de projeção da cidade. Substituíra a Sociedade Algodoeira do Nordeste
Brasileiro - Sanbra, com a qual o município tinha um contrato desde o ano de
1929 (administração cel. Antonio Japiassu).»
Pág. 183: «1955 - Inauguração, a 15 de
janeiro, da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso, pelo presidente Café Filho,
entrando em funcionamento com 2 grupos geradores de 60.000Kv, cada um, tendo
sua capacidade projetada para a capacidade de 1.000.000 de Kw.»
Pág. 184: «1957 - No dia 1º de março Arcoverde é beneficiada com luz e força da
Cachoeira de Paulo Afonso, acendendo-se as lâmpadas de suas principais ruas.
Luís Gonzaga e José Dantas (intérpretes extraordinários da alma do Sertão e de
sua gente) nos dariam alguns anos depois (1965) o baião “Paulo Afonso”[ goo.gl/vr3wwB ]:
«Delmiro deu a ideia
Apolônio
aproveitou
Getúlio fez
o decreto
E Dutra
realizou
O Presidente
Café
A Assim
inaugurou
E graças a
esse feito
De homens
que têm valor
Meu Paulo Afonso
foi sonho
Que já se
concretizou
Olhando pra
Paulo Afonso
Eu louvo o
nosso engenheiro
Louvo o
nosso cossaco
Caboclo bom
verdadeiro».
Foto de 1922.
Na hoje Av. cel. Antonio Japiassu. Postes de iluminação pública. Foto do livro Município
de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e Outras Notas. Pág. 44, Luís Wilson,
1982. E do livro Minha cidade, minha saudade. Rio Branco (Arcoverde). Reminiscências. 1972.
Luís Wilson. Pág. 39.
1933 - Postes de iluminação na ora Av. Cel. Antonio
Japiassu. Do livro Minha cidade, minha
saudade . Rio Branco (Arcoverde). Reminiscências. 1972. Luís Wilson. Pág.
323.
Foto de 25-10-1933 da então av. João Pessoa (hoje
col. Antonio Japiassu), onde à esquerda aparece o grupo escolar Sérgio Loreto (depois
de 1930, grupo Escolar Quatro de Outubro, hoje Secretaria da Fazenda, Agência da Receita Estadual, Sefaz (goo.gl/maps/beXrt), Escola Monsenhor Fabrício (recém
demolida) e o cinema Rio Branco. Foto do livro do livro Município de Arcoverde
(Rio Branco). Cronologia e Outras Notas.
1982. Luís Wilson.
Murilo de Oliveira Lira (prefeito, de
1955 a 1959). Na primeira imagem, aos 18 anos, em 1942.
Acima, inspeciona a
montagem da linha de transmissão entre Arcoverde e Pesqueira. Abaixo imagem de
Murilo de Oliveira, já residindo em Recife, no ano de 1984, aos 60 anos de
idade. (Fotos: acervo da família).
18-10-1945 - A Noite, bit.ly/1IdqcKZ, 9ª col.: «Arcoverde - Em meu nome e
no das classes produtoras deste município, manifestamos nossos aplausos pelo
ato benemérito de V. Excia. consubstanciado no decreto de criação da Cia. Hidro
Elétrica de São Francisco, que vem demonstrar a todos os brasileiros
conscientes, a atitude progressista do Governo de V. Excia. Respeitosas
saudações - Severiano Freire, prefeito.»
29-08-1951
– Diário Oficial, bit.ly/1IuAA0i, Encampação Elfesa; 02-09-1951
– Mais, 11-09-1951, bit.ly/1IdDes1, Sugestão de requerimento à Chesf
para inclusão de Arcoverde. bit.ly/1OFI31h, Mais: 11-09-1951, bit.ly/1KELdo2, Requerimento 375; Mais: 22-09-1951,
bit.ly/1JW978M, Parecer 752.
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