A emancipação de Arcoverde
JORNAL DE ARCOVERDE n.291 – Maio/Junho de 2016 – pág.11
A emancipação de Arcoverde
Pedro Salviano Filho
Neste ano de
2016 Arcoverde faz 88 anos de emancipação política de Pesqueira. Retomemos
alguns dados já mostrados nesta coluna para uma visão panorâmica dessa
história.
O documento
mais antigo registra, em 03-03-1812 (há 204 anos), a nomeação de um juiz para o
lugar Olho d´Água https://bit.ly/3cLXLe3. Possivelmente para diferenciar de
tantos topônimos existentes na região, ele já aparece, em 05-06-1856, como Olho d´Água dos Bredos https://bit.ly/2ZqS2pQ que, em 01-07-1909, é elevado à
categoria de vila. Em 13-3-1912 recebe o novo topônimo Barão do Rio Branco, logo sendo abreviado para Rio Branco https://bit.ly/2ZhRS46 e https://bit.ly/2TmMFV1. Com a chegada da ferrovia, em 13-05-1912,
o desenvolvimento da centenária vilazinha assume importante destaque na região.
Já no final de 1919 eram inaugurados a instalação da energia elétrica e o cine
teatro Rio Branco. Com a abertura de novas estradas, crescimento da feira de
gado, implantação da SANBRA etc., o distrito prospera rapidamente. Em 30-07-1922,
em reunião no cine Rio Branco, a sociedade organiza campanha para a emancipação
de Pesqueira, movimento que se arrasta por 6 anos. Finalmente, em 11-09-1928, o
Congresso Legislativo Estadual decreta a esperada emancipação, https://bit.ly/2TmOgtZ. E em 01-01-1940, recebe o seu
quarto e atual topônimo: Arcoverde https://bit.ly/2Xa5SKN. Planilha: bit.ly/2K5AhUh.
Como era
comemorada na nossa vila a independência do Brasil? Como e quando foi a
primeira reunião para desencadear a nossa independência de Pesqueira? Quem presidiu
e quais foram os componentes da comissão executiva em prol da emancipação? Será
que houve interferência do major Cândido Cavalcanti de Brito, prefeito de
Pesqueira (1923/25, 1927/28), junto ao seu amigo governador Estácio Coimbra
para dificultar a emancipação do distrito que mais contribuía com a arrecadação?
Tire as dúvidas pela leitura dos jornais da época.
14-08-1920 - A Província, goo.gl/3x0kKP 2ª col.: «Pelos municípios,
Pesqueira, 7 de setembro em Rio Branco. Na vila de Rio Branco, do município de
Pesqueira, será este ano condignamente festejada a data da nossa emancipação
política. As festas serão levadas a efeito pela "Liga riobranquense contra
o analfabetismo", e obedecerão ao seguinte programa: 7 horas - Hasteamento
solene da bandeira na fachada da escola estadual, orando o tenente Tranquilino
Vianna; 9 horas, missa cantada e sermão pelo revmo. vigário Thaumaturgo
Albuquerque; 16 horas, passeata cívico-escolar, discursando em lugares
determinados as sehorinhas Noemia de Hollanda Cavalcanti e Adalgisa
Albuquerque; 18 horas, descimento solene da bandeira; 20 horas, espetáculo de
gala pelo corpo cênico da "Liga", sendo representadas as comédias
"Antônio Silvino" e "Um pai aperriado", esta da lavra do
comediógrafo Agostino de Hollanda; conferência lítero-histórica pelo dr. J.J.
Andrade Lima; sessão magna; interessantíssimo ato de variedades pelos alunos da
escola estadual. Em todos os atos a filarmônica local, sob a batuta de
competente professor executará várias peças do seu repertório. O cineteatro
"Rio Branco" estará garridamente ornamentado.»
Cine teatro Rio Branco. Palco da
organização da campanha de emancipação do nosso município.
08-08-1922 - Jornal do Recife, goo.gl/HFzYv2 , 4ª col.:
«Pelos
municípios – Rio Branco, próspera localidade do interior do nosso Estado,
respeitável pelo seu comércio adiantado e progressista, está empenhado numa
campanha digna dos melhores aplausos. Pretende com o unânime concurso de todas
as classes representativas dali, emancipar-se de Pesqueira, tornando-se por sua
vez comuna municipal, para o que dispõe moral, político e economicamente dos
recursos exigidos pela respectiva lei.
Rio
Branco até antes de 1911, quando a estrada de ferro lhe chegou às portas, era
um povoado humilde situado à margem direita do riacho do Mel, afluente do
Moxotó. Mas, em derredor, nas serras que o circundam, campos vastos de criação
e de lavoura, davam-lhe vitalidade, cooperando as suas ricas fazendas de gado
para o fomento do antigo município de Cimbres, então a testa da edilidade.
A
estrada de ferro porém completou no centro o prestígio que gozava na periferia.
Do povoado que era tornou-se pelo natural impulso que as vias férreas colimam,
em florescente vila, hoje quase cidade importante, possuindo fábricas, luz
elétrica, estabelecimentos de promissoras iniciativas, industriais e
comerciais.
Semelhante
fenômeno evolutivo granjeou para Rio Branco uma posição de relevo no sertão.
Realizam-se ali semanalmente ruidosas feiras de gado que atingem a somas altas.
Aliás, a sua própria ponta terminal da estrada de ferro concorre para isto.
Tendo,
portanto, vida econômica suficiente para viver independente, atingindo a renda
dos seus impostos municipais a mais de vinte contos (20:000$000) anuais, apesar
da arrecadação deficiente e precária, tendo a população avultada, eleitorado
etc., é natural esse desejo dos habitantes de Rio Branco para se tornar
município autônomo. Concorrerá o fato para animar o seu progresso e para
grandeza do Estado.
Neste
sentido, no domingo último [dia 30 julho de 1922], reunidos no cinema local,
todas as classes sociais, daquela zona sertaneja, inclusive os representantes
políticos do distrito, sob a presidência do coronel Delmiro Freire, foi
levantada a ideia de levar a efeito a emancipação municipal, falando por essa
ocasião vários oradores, entre entusiásticos aplausos.
Terminada
a discussão da ideia, foi apresentado o seguinte programa da campanha:
1º
- Designação de uma comissão executiva para promover os meios indispensáveis à
realização da ideia.
2º
- Abertura de uma subscrição popular destinada a custear as despesas.
3º
- Dirigir telegramas de comunicação da assembleia, solicitando apoio moral, aos
exmos. Srs. Cardeal Arcoverde, ministro André Cavalcanti, cônego Arthur
Arcoverde, senadores Manoel Borba e Rosa e Silva, deputados Dantas Barreto e
Pessoa de Queiroz, drs. Severino Pinheiro, Sérgio Loreto, José Bezerra
Cavalcanti, José Bezerra Filho e José Neves Filho.
4º
- escolha de um advogado de reconhecida notoriedade para fundamentar e dirigir
a representação perante o Congresso do Estado.
5º
- Promover e incrementar o eleitorado de Rio Branco.
6º
- Organizar os elementos estatísticos da receita e despesa, que fundamentem à
representação, de acordo com a lei orgânica dos municípios.
7º
- Entender-se com os municípios de Alagoa de Baixo, Buíque e Pesqueira sobre a
secção dos distritos de Umburanas, Salobro e Mimoso, para constituírem os
núcleos distritais do futuro município.
8º
- Tratar, em suma, de tudo quanto necessário for para a efetividade da ideia.
Aprovada
a proposta, ficou escolhida a seguinte comissão executiva: coronel Delmiro
Freire, coronel Jarônymo de Albuquerque Cavalcanti Jé, coronel Manoel Novaes,
coronel José Estrela de Souza, coronel Nebridio Siqueira Granja, coronel Sálvio
Napoleão e capitão João Manso de Barros.»
Cel. Delmiro José Freire, presidiu a
Campanha. Foi também prefeito (1937 a 1939) de Rio Branco.
A campanha para a emancipação, em 30 de julho de
1922, formou sua Comissão Executiva: coronel Delmiro Freire, coronel Jarônymo
de Albuquerque Cavalcanti Jé, coronel Manoel Novaes, coronel José Estrela de
Souza, coronel Nebridio Siqueira Granja, coronel Sálvio Napoleão e capitão João
Manso de Barros.
04-09-1922 - A Noite (RJ), goo.gl/Brz03f , 5ª col.: «Um distrito de Pesqueira proclama
sua independência. Rio Branco (Pernambuco), 4 (Serviço especial de A Noite) - O povo, o comércio e o
eleitorado de Rio Branco, reunidos em importante assembleia popular, no prédio
do Cinema Rio Branco, resolveu gritar independência, desligando-se do município
de Pesqueira, por isso que o mesmo distrito pode viver de suas rendas próprias.
A comissão executiva resolveu telegrafar ao cardeal Arcoverde, general Dantas
Barreto, Drs. Rosa e Silva, Manoel Borba, Estácio Coimbra, Sérgio Loreto,
Severino Pinheiro e à imprensa em geral.
Os
municípios de Alagoa de Baixo e Buíque dão os distritos Umburana e Salobro para
a formação do Núcleo Municipal riobranquense. Telegrafar-se-á dando os dados
estatísticos ao sr. presidente da República e demais autoridades.»
07-10-1922 – O Jornal (RJ), goo.gl/Mvx1O0 , 4ª col.: « [...] Rio Branco, quer de um, quer de
outro, espera muita coisa pois, apesar de ser um distrito mais importante mesmo
do que a própria sede do município, está em tal abandono, que é de causar
lástima.
É preciso
notar que o comércio de Rio Branco, depois do de Recife, Limoeiro do Norte,
Garanhuns, Vitória e Caruaru, é o mais importante do Estado, recebendo
mercadorias de toda a parte e expedindo para todo o sertão.»
25-04-1923 – A Provincia, goo.gl/DySuaZ ,
5ª.col.: «Município de Rio Branco. Mais uma
importante localidade do interior do Estado, impulsionado pelo constante
evolver de suas atividades econômicas, vem de dirigir ao Congresso Legislativo
do Estado um memorial, no qual pleiteiam a sua independência municipal.
Trata-se
de Rio Branco, distrito de Pesqueira, à porta o sertão, circunstância que lhe
dá uma propriedade invejável, podendo hoje afirmar-se com vida independente
pelo estímulo trazido pela estrada de ferro às suas fontes naturais de produção
a riqueza.
Poder-se-ia
argumentar a transitoriedade de seu progresso devido a contingência aquela
poderosa circunstância; entretanto, esquece-se de que semelhante fenômeno
apenas ampliado, desenvolva os seus recursos naturais; pois, é sabido que Rio
Branco tem serras fertilíssimas onde se cultiva o algodão, e na região da
caatinga, denominado Moxotó, Arara, Saco da Serra etc., a pecuária, desde
tempos imemoriais, constitui o celeiro de quanto gado necessita o litoral.
Depois,
os municípios circunvizinhos, de Alagoa de Baixo, Buíque e Pesqueira, em ação
conjunta, cederam regiões de seu território, velhos distritos habitados, com
excelente zona pastoril e agrícola, ao novo município de Rio Branco,
enriquecendo assim o patrimônio territorial do núcleo da formação.
Dadas
estas razões, é de crer que o Congresso ampare mais esta outra aspiração de
liberdade municipal de um povo que deseja crescer e evoluir.»
05-05-1923 - A Provincia , goo.gl/q7zmev , 3ª col.:
«Congresso do Estado - Câmara - São lidos ,
submetidos à discussão e aprovados os pareceres ns.61 e 62, mandando ouvir os
municípios de Pesqueira, Buíque e Alagoa de Baixo, sobre a fundação do
município de Rio Branco [...].»
05-05-1923 - Jornal do Recife, goo.gl/7CQSqX , 3ª col.: «São
lidos , submetidos à discussão e aprovados os pareceres ns.61 e 62, mandando
ouvir os municípios de Pesqueira, Buíque e Alagoa de Baixo, sobre a fundação do
município de Rio Branco [...]“. Na parte inferior da coluna: “O dr.
Octávio Tavares, presidente da Câmara dos Deputados, dirigiu ontem, aos
municípios de Pesqueira, Buíque e Alagoa de Baixo, o telegrama abaixo,
solicitando informações sobre o mérito do memorial dos habitantes de Rio Branco,
em que estes pleiteiam a sua independência municipal: "Ilmos. srs.
presidente e mais membros do Conselho Municipal de Pesqueira, Buíque e Alagoa
de Baixo: Levo ao conhecimento desse Conselho que a comissão de Estatística e
Divisão Civil da Câmara dos Deputados, a que foi presente o memorial em que os
habitantes de Rio Branco pleiteiam a sua independência municipal e os
habitantes do povoado de Ipojuca, Salobro e Umburanas solicitam a sua anexação
ao município de Rio Branco, caso ele venha a se constituir, precisa, nos termos
do art.36 parágrafo 9º da Constituição, ouvir o vosso parecer sobre a pretensão
constante do aludido material. A Câmara aguarda a vossa resposta com a possível
brevidade. Saudações. Octavio Tavares, Presidente da Câmara.»
15-05-1923 - Jornal do Recife, goo.gl/YvzLgB
, 5ª col.: «Oficio do Conselho Municipal de Alagoa de Baixo, nos
seguintes termos: Exmo. sr. Presidente da Câmara dos Deputados. Tendo presente
o telegrama de v. exc. de 4 do corrente, em que solicitava deste Conselho a sua
opinião acerca do memorial dos habitantes de Rio Branco, bem como o parecer
sobre o abaixo assinado dos moradores de Umburanas, que desejam ficar
pertencendo ao município de Rio Branco, caso ele se venta a constituir, em
reunião hoje realizada deliberou
homologar a aspiração daqueles moradores, achando justo também o movimento de
autonomia municipal de Rio Branco. A linha de demarcação de limites deste
município deverá ficar assim determinada: por uma linha que a partir da fazenda
Tigre, ao N. de Alagoa de Baixo, vá alcançar as fazendas Cachoeira, Pinheiro e
o povoado de Umburanas, cujos domínios jurisdicionais ficarão pertencentes ao
novo município de Rio Branco, devendo a linha de limite partir de Umburanas em
ângulo agudo por uma reta em direção do morro Serrote, pertencente ao município
de Buíque. O Conselho aproveita a oportunidade para apresentar à Câmara dos
srs. Deputados os seus votos de solidariedade e alta estima. Saúde e
fraternidade. Joaquim de Siqueira Cavalcanti, Presidente do Conselho, Romão
Anacleto de Sant´Anna, 1º Secretário,
Vicente Ferreira Neves, 2º Secretário, Luís Gonçalves do Rego, Pedro Pessoa de
Siqueira Campos e José Felipe da Silva, Conselheiros.»
20-06-1928 - Diario da Manhã , bit.ly/19TiThB , 3ª col.: «Rio Branco tem elementos
para pleitear a sua autonomia. E pode e deve libertar-se de Pesqueira.
O sr. Estácio Coimbra nomeou uma custosa
comissão destinada a rever a divisão administrativa do Estado. A comissão, até
hoje, continua prolongando os seus afazeres meramente burocráticos com o
intuito de tornar o mais rendoso possível o estudo da nova classificação de
municípios, feita, aliás, para favorecer a política estacista no interior. A
comissão proporá a divisão de acordo com esses intuitos políticos, independente
dos interesses e das possibilidades de cada circunscrição a dividir. Se fossem
sinceras as intenções do governo mandando proceder à nova divisão
administrativa, poder-se-ia apontar desde logo certas regiões que seriam
forçosamente elevadas à categoria de municípios, já pelo número de seus
habitantes, já pelas suas possibilidades econômicas e financeiras. Rio Branco,
por exemplo, estaria colocado entre os novos municípios. A sua população é numerosa.
Rio Branco é um entreposto de compra e venda de algodão e peles, tendo uma vida
comercial autônoma do município de Pesqueira, a que está agregado. As suas
feiras são superiores às da sede do município, com uma concorrência cada vez
maior. É provável que o governador não queira desgostar os reguletes que mandam
e desmandam no município de Pesqueira. Mas é sempre bom ter esperanças. O sr.
Estácio Coimbra (tenham certeza disso os habitantes de Rio Branco) é fértil em
promessas [...]»
15-08-1928 – A Provincia, goo.gl/Dsq0IH , 1ª col.: «Criação
de novos municípios. Parecer da comissão de estatística e divisão civil da
Câmara dos Deputados.»
11-09-1928 - https://bit.ly/2ZX9NO5 , pág. 12/22. Lei n. 1931
– Emancipação de Rio Branco. O município foi instalado em 01-01-1929, https://bit.ly/31ah6m2.
13-09-1928 – goo.gl/OxSmhs , 4ª col.:
«A nova divisão administrativa de Pernambuco. O território do Estado ficou
organizado em 85 municípios.»
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