A Great Western
Pedro
Salviano Filho
JORNAL DE ARCOVERDE – Edição 257 –
Outubro de 2010 – Caderno 1 – Pág.3
HISTÓRIAS DA REGIÃO
A Greitueste é o nome que o nordestino deu para a empresa
inglesa Great Western of Brazil Company Limited que aqui
se estabeleceu há quase 140 anos. Ela tem sido apontada como um dos principais
fatores de desenvolvimento para muitas cidades por onde seus trilhos iam
chegando. Faz parte da cultura da nossa gente por tudo que significou na rotina
diária. Participou, além do fundamental fator econômico, de nossas idas e
vindas, intervindo em nossas emoções e na qualidade de vida, deixando marcas
inesquecíveis em cada um de nós.
Minhas lembranças mais intensas da Greitueste
remontam as décadas de 50 e 60. E elas são bem fortes, pois morava bem em
frente à estação de trens, na Praça Barão do Rio Branco, 129. Era uma casa que
meu pai havia comprado do Sr. Freitas, antigo funcionário da Great Western (que em
1950 foi incorporada pela União em Rede Ferroviária do Nordeste e, depois, em
1975, em Rede Ferroviária Federal), num pacote com a fazenda Salobro, em Buíque
(esta o meu pai vendeu poucos anos depois). Antes nós morávamos na Praça da
Bandeira de Arcoverde, n. 33.
A casa em frente à estação era comprida. O
terreno se estendia até fazer divisa com o sítio do seu Jé (Cel. Jerônimo de
Albuquerque Cavalcanti), com vários coqueiros altos e era cortado pelo riacho
do Mel. No quintal da casa havia muitos dormentes velhos de baraúna usados na
fixação de trilhos e onde se reproduziam preás que me deixavam encantado. Dizem
ter sido ali, no sítio do seu Jé, que existiu o tal Olho d`Água (dos Bredos),
que deu origem ao primeiro nome da nossa cidade.
Naquela época, as chegadas e saídas dos trens na
estação eram os momentos importantes da cidade. Ali era o point onde
todos se concentravam para saber das novidades. Era quando o fervor acontecia,
acompanhando o embalo da nossa emoção. Os ambulantes se agitavam pra lá e pra
cá na ânsia de vender seus produtos, jornais e revistas chegando com as últimas
notícias. Os passageiros carregavam as malas; nos vagões de carga os produtos
eram movimentados, o apito do chefe de trem soava estridente e gente chegava
atrasada... Moça bonita nunca faltava, principalmente para os corações
transbordantes de vontade de viver... Havia muita coisa acontecendo.
Mas as atividades não ficavam naqueles horários
pontuais. Lembro-me bem das noites da minha infância vivendo em frente à
estação. Os apitos que ajudavam na configuração das composições, o barulho dos
encaixes dos vagões e, especialmente, o mugido de tantas reses que, embarcadas,
aguardavam a viagem.
Refletindo sobre o espaço importante que a Greitueste ocupa
nas minhas lembranças, fui pesquisar um pouco sobre a sua história. Soube que a
ferrovia nasceu da The Great Western Railway Company,
companhia criada na Inglaterra para fazer a ligação entre Londres e a sua parte
oeste, quando alguns empresários ingleses criaram em 1872 a Great Western of Brazil Company
Limited.
Aqui no Brasil, ela começou a operar três anos
depois, no tempo do império e, em 1879, inaugurava em Santo Amaro, Recife, suas
primeiras obras. Em 1882 os trilhos chegaram a Limoeiro. Depois
construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco (1885-1896) ligando Recife a
Caruaru.
Além de passageiros, ela transportava também
os principais produtos da região, como açúcar, álcool, madeira, algodão,
feijão. No início do século passado, ela anexou a maior parte das estradas de
ferro da região, o que abrangia linhas estaduais, municipais e estratégicas.
Luís Wilson nos conta no seu livro
“Município de Arcoverde (Rio Branco) [1982]” que “Algum tempo antes dos
trilhos da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, no princípio do século,
chegarem à Sanharó, pretendeu a Great Western desviá-los para o estado da
Paraíba, via Pão de Açúcar. Zeferino [Zeferino
Cândido Galvão Filho, proprietário do jornal] levantou-se como um
gigante da tribuna da GAZETA DE PESQUEIRA e, entre outras coisas, esteve no Rio
de Janeiro com Rosa e Silva e outros políticos de influência. Antes de sua vitória,
recebera uma proposta da Great Western: seria feito um ramal da Estrada, de
Sanharó à Pesqueira. Recusou-a e continuou em sua luta até o fim. Quando
Zeferino morreu, 18 anos depois, o povo de Rio Branco, sempre agradecido aos
seus benfeitores, enviou um requerimento ao Conselho Municipal de Pesqueira,
solicitando que seu nome passasse a designar uma de nossas ruas... A ´Rua da
Linha` passou a ser, então, em Rio Branco, a Rua Zeferino Galvão”.

Estação da Great Western Barão
do Rio Branco. Foto de 1927 – do livro “Município de Arcoverde”
No dia 13 de maio de 1912, finalmente os trilhos
chegaram a Olho d´Água dos Bredos. Assim, estamos perto do centenário deste
primeiro grande impulso de desenvolvimento da nossa região! O segundo foi o das
Estradas das Obras Contra as Secas – IFOCS, depois DNOCS -, em 1932.
E, ainda, Luís Wilson nos conta no mencionado
livro: “No frontão de cada lado da pequenina estação mandou inscrever a
antiga ´Great Western`: BARÃO DO RIO BRANCO. Era uma homenagem ao reintegrador
do território nacional, Dr. José Maria da Silva Paranhos Jr.”.
E prossegue: “O nome ´Barão do Rio
Branco` substituiu, no entanto, oficialmente, o de ´Olho d´Água dos Bredos´, não
sabemos se por ato do Governo do Estado, dois ou três meses depois de inaugurada
ali a estaçãozinha da Great Western”.
A crise gerada pela Segunda Guerra Mundial
condicionou o uso da lenha no lugar do carvão mineral e, assim, além dos
dormentes, a pressão sobre as nossas matas foi aumentada. Conta-se que para
diminuir a devastação, a empresa passou a desenvolver vários hortos florestais
onde eram cultivadas milhares de mudas de espécies nativas e exóticas. Só
depois é que passou a se usar óleo combustível.
Rio Branco passou a município em 1928 e em 1943
passou a se chamar Arcoverde. A sua estação ferroviária foi ponta de linha de
1912 a 1930, quando foi inaugurada a estação seguinte: Henrique Dias. Em 1963
chegou ao seu extremo: Salgueiro. Desde a década de 1980 está desativada.
Em 1915, segundo relato do referido Luís Wilson,
os primeiros automóveis chegaram via Great Western para
inaugurarem a estrada Rio Branco a Triunfo. “Entre 1922 e 1924, a
´praça´ de Rio Branco possuía seis ou sete automóveis”.
Depois ampliaram-se as rodovias. E veio o asfalto, que já cobre muitos trilhos
da rede ferroviária.
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