Cine Teatro Rio Branco




JORNAL DE ARCOVERDE N. 272 – Março-Abril de 2013 – Pág. 11


Cine Teatro Rio Branco

Pedro Salviano Filho


O cine teatro Rio Branco após sua primeira restauração que aconteceu em 1941, quando passou a dispor de um serviço de alto-falantes para propaganda interna, e 500 cadeiras. Foto do livro ÍCONES – Patrimônio Cultural de Arcoverde, de Roberto Moraes, 2008, pág. 62


O cinema em Rio Branco teve início em 1917 [dez.1919] por iniciativa de Augusto Cavalcanti ou Augusto Mouco como era mais conhecido. O historiador Luís Wilson o considera “o maior benfeitor, talvez, da cidadezinha de Rio Branco da sua época” (Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos, volume 1, de Luís Wilson, 1978, pág.363). Afinal foi ele quem proporcionou, em 1917, pela primeira vez, a luz elétrica, além do cinema. E a cidade o reverencia com nome de uma das suas ruas: http://bit.ly/12vRABX .

Mas quem foi mesmo esse Augusto Cavalcanti? 


O Cel. Augusto (de Albuquerque) Cavalcanti (Augusto Mouco) e sua esposa Teodolina Freire, casados em 13 de novembro de 1919.  Fotos do livro Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos, de Luís Wilson, 1978, pág. 365 e 367.

Para precisar mais informações sobre ele, encontramos no livro de Registro de Matrimônios do cartório de Registro Civil do município de Rio Branco http://bit.ly/YdpycZ alguns dados desconhecidos ou pouco divulgados: Augusto Cavalcanti de Albuquerque (filho de André Cavalcanti de Albuquerque e Maria Emília de Albuquerque Cavalcanti – na ocasião já falecida), nasceu em 1882, e seu novo casamento, como viúvo, aconteceu no dia 13 de novembro de 1919, na Fazenda Tamboril, tendo como testemunhas os majores Tito Magalhães da Silva Porto e Joaquim de Albuquerque Cavalcanti Filho. Então com 37 anos de idade, casava-se com Teodolina Freire, solteira de 17 anos, filha do já falecido Antônio Freire e de Maria Pacifica de Souza Freire. Neste documento ficou declarado que todos os seus bens passavam para o casal, com exceção de uma parte da Usina Maria das Mercês (município do Cabo-PE) que, após sua morte, ficaria para suas sobrinhas solteiras.
O historiador Luís Wilson registrou no já citado livro, sobre Augusto Cavalcanti: “Falecido aos 45 ou 50 anos de idade, em 1921, no Recife, para onde viajara doente de Rio Branco, acompanhado do seu primo e velho amigo Dr. Leonardo Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti. Conta-se que foi envenenado depois que ingeriu, em casa, certa porção de cerveja, com algum alimento, dado por uma pessoa da família da moça bonita (dizem que a moça mais bonita que viveu naquele mundo). O velho apaixonou-se perdidamente e com ela se casou”. Confrontando os dados do registro, desconhecidos pelo historiador mencionado, ele deveria ter em torno de 39 anos quando morreu.  Como curiosidade, encontra-se no mencionado livro de matrimônios, no dia 25 de agosto de 1917, na mesma residência no Tamboril, o casamento de sua irmã Teonila Freire, de 21 anos de idade, com João Santa Cruz. Anexo ao registro um documento  http://bit.ly/11rFMhJ, Certidão com ação de desquite, “já que Teonila Freire Santa Cruz entregou-se à prática de atos deponentes com vários indivíduos, inclusive José Mariano da Silva e que, por ciúme a sua esposa resolveu assassinar este. 12 de maio de 1941.” No Diário Oficial de abril de 1946 (Seção I 5458): "Teonila Freire Santa Cruz já cumpriu mais de 6 anos e 3 meses da pena de 24 anos de reclusão...". Teolina e Teodolina também eram irmãs de Teodomira, Teodoreto, Teódulo, Teobaldo, Teoplisto, Teófilo e Teopompo Freire, como vimos, filhos do Antônio Freire (irmão de Severiano José Freire, de Ildefonso Freire etc. mais nomes de ruas de Arcoverde).
Com Teodolina teve um filho, André (http://bit.ly/13PxRjA ) , mas, antes de chegar a Rio Branco, em 1915 ou 1916, como revela Luís Wilson, teve mais filhos: “Não sei se Augusto Cavalcanti deixou filhos com a alemã com a qual casou no Rio de Janeiro, tendo deixado de Teodolina um único filho (André), e com Francisca Josefa Maia... quatro filhos, criados pelos irmãos do coronel”... Já Teodolina casou, em segundo casamento, com João Falcão e teve três filhos; e em terceiro casamento, com o cônsul do Uruguai, Antônio Melo Barreto (Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos. Vol. 3, Luís Wilson, 1978, pág. 1292).
O seu pai, André Cavalcanti de Albuquerque, nasceu em 1845. “Vivia já em Ipojuca [município no litoral], licenciado da Magistratura, quando veio a República e, por influência de D. Joaquim Arcoverde, naquela época Bispo do Rio de Janeiro (em 11 de dezembro de 1905 foi escolhido Cardeal Presbítero da Santa Igreja Católica Apostólica Romana), foi nomeado por Prudente de Morais, chefe da polícia da capital. Quando Campos Sales subiu ao poder, sendo indicado Sampaio Ferraz para a Chefia de Polícia, ainda por iniciativa de D. Joaquim, foi nomeado André Cavalcanti para a primeira vaga do Supremo Tribunal Federal”, conta-nos Luís Wilson.
O português Pantaleão de Siqueira Barbosa nasceu em 1716, chegou a Pernambuco em 1738 (Cronologia Pernambucana, vol. 7, Nelson Barbalho, 1983, pág.179) e faleceu em 29 de junho de 1795 (Caboclos do Urubá, Nelson Barbalho, 1977, pág. 105). Teve seis filhos, o último deles Joaquim Inácio de Siqueira Barbosa que, casado com Maria de Jesus Bezerra Cavalcanti, teve 20 filhos ("Os 20 de Pesqueira"). Um dos filhos era José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti, pai do Ministro André Cavalcanti. Cita-se que José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti casou-se com Maria da Penha Cavalcanti, irmã de Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque Arcoverde, tornando-se pai do capitão Budá e avô do Cardeal Arcoverde.
O coronel Augusto Cavalcanti chegou a Rio Branco em 1915. “Em 1917, graças ao dinamismo e operosidade do Sr. Augusto Cavalcanti, é fundado o serviço de Iluminação Pública e Particular por eletricidade, realizando-se, assim, a concretização de um sonho por todos almejado, e um passo a mais no caminho do futuro” (O Município de Arcoverde – Teófanes Chaves Ribeiro, 1961: https://bit.ly/2BqO6vy pág. 3)
Os primeiros cinemas de Pernambuco começaram a funcionar em Recife: em 27 de julho de 1909, o “Pathé”, na Rua Barão de Vitória (Rua Nova), nº 45. Apareceriam depois o “Royal”, também na Rua Nova (dia 6 de novembro), o “Helvética”, na Rua da Imperatriz (março de 1910), o “Moderno” (1913)...
Em 1913 os cinemas já começavam a funcionar no interior: Palmares, Caruaru, Bezerros, Gravatá, Jaboatão, Barreiros, Garanhuns etc., como nos mostra o jornal A PROVÍNCIA.


Um cine-theatro Rio Branco também funcionou em Caruaru, naquela época.
O Cel. Augusto Cavalcanti era o proprietário da obra e encarregou  Antônio Napoleão Pacheco de Albuquerque da administração e da construção do referido cine teatro que foi inaugurado numa sexta-feira, dia 18 de maio de 1917 (Muirá Ubi. Arcoverde. Tradução, trajetória e talentos, Roberto Moraes, 2004, pág.52).  Naquele dia os filmes anunciados para Recife eram:
 


Em 1919, o dono do cine teatro Rio Branco recebe a visita do seu pai, o ministro do Supremo Tribunal Federal André Cavalcanti http://bit.ly/11WU2jJ . “Foi para receber o pai que o Coronel mandou construir [em 1918] uma de nossas mais belas casas de residência, algum tempo depois vizinha à feira de gado do Tamboril e onde esteve entre os anos de 1932 e 1936, em Rio Branco, as Obras Contra Secas.” (Município de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e outras notas. Luís Wilson, 1982, pág. 93).
Um movimento para a emancipação de Rio Branco do município de Pesqueira já estava se estabelecendo. “Assim, a começar do ano de 1919, uma plêiade de homens de boa vontade se movimenta, no sentido de emancipar o distrito, desligando-o e tornando-o independente. No cine local houve uma sessão muito agitada, tendo todos os presentes, que eram na sua maioria elementos do comércio, se comprometido a não mais pagar impostos ao município de Pesqueira. Jornais da capital do país publicaram notícias desse movimento emancipacionista, enviadas pelo então correspondente dos órgãos A NOITE e O JORNAL – Sr. Antônio Napoleão Arcoverde” (O Município de Arcoverde– Teófanes Chaves Ribeiro , 1961, pág.4:  https://bit.ly/2BqO6vy ).

Proprietários do Cine Rio Branco:
1917 - Cel. Augusto de Albuquerque Cavalcanti (Augusto Mouco).
1921 - Médico Dr. Leonardo Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.
1934 - José Cavalcanti de Araújo (Zezé de “seu” Santino).
1942 - Dentista Dr. Pedro de Albuquerque Pedrosa.
1957 - Químico industrial Prof. Nilson Magalhães de Oliveira
1978 - Henrique Napoleão Arcoverde
1998 - Centro de Apoio Comunitário de Arcoverde (CEACA)
2010 – Prefeitura Municipal de Arcoverde

Com a morte de Augusto Cavalcanti, o seu primo e velho amigo Dr. Leonardo Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti passa a ser o novo proprietário do cine teatro, que o arrendou a Sebastião Bezerra (https://tinyurl.com/ybqz37yu).
Os filmes exibidos, os atores, as séries, as companhias de teatro, o comportamento dos rio-branquenses no cinema, a preferência dos lugares, a animação dos filmes mudos pelo piano e flauta e tantos outros aspectos pitorescos estão bem registrados nos livros de Luís Wilson, alguns já citados aqui.
Foi no dia 23 de dezembro de 1934 que o cinema falado chegou ao Rio Branco. O exibido foi o filme musical inglês “Viena de Meus Amores” (Magic night), 1932 , com Jack Buchanan (http://bit.ly/13FBZyV ) e Anna Neagle  http://bit.ly/13FC7hD , e substituiu a anunciada comédia musical “O Meu Boi Morreu” (The Kid from Spain), de 1932, com Eddie Cantor e Lyda Robert .
Depois vieram as cores, novos sons e imagens, reformas etc. Na década de 30 tomou o nome de cine Globo por um período.
“O Cine Rio Branco era também teatro até 1938 ou 1940”. (Minha Cidade, Minha Saudade – Luís Wilson, 1972, pág. 269).
Somente em 1º de junho de 1947 é que foi inaugurado o Cine Bandeirante (Cine Bandeirante. Histórias que o vento não levou. Fernando Figueiredo. 2012, pág. 23), quando o Cine Rio Branco já tinha completado suas três décadas.
Esta coluna, que teve seu início em 2009, com um texto “Memória do rádio” (https://bit.ly/2Y8vND9 ), retoma o assunto CINEMA para acrescentar mais esclarecimentos, especialmente algumas compilações do importante historiador arcoverdense Luís Wilson, que tanta dedicação demonstrou nos seus livros ao “meu cine Rio Branco”, como ele costumava dizer.
Vale lembrar que, com o proprietário Nilson Magalhães de Oliveira tivemos pela primeira vez um CINEMA DE ARTE em Arcoverde, numa parceria de sucesso com o programa da RÁDIO BANDEIRANTE DE ARCOVERDE (depois Rádio Cardeal Arcoverde) CINEMA NO RÁDIO. Uma edição deste programa (de 27-2-1966) pode ser escutada em https://bit.ly/2AQKhiI . No livro Baboseiras, de Waldemar Arcoverde, 1991, pág. 111 a 114, alguns comentários para aquele programa radiofônico. O Cinema de Arte funcionava nas manhãs dos domingos. Panfletos com a ficha técnica e a avaliação artística de “filmes de arte”, selecionados pela crítica, eram distribuídos na entrada do cinema e os espectadores apoiaram a iniciativa por um bom tempo. Em 1968 o Cinema de Arte era também anunciado pelo Diário de Pernambucohttps://bit.ly/2MHUu3H (2a. col. "De tudo um pouco); https://bit.ly/2UhhNpe (1a. col. "Atualidades"); https://bit.ly/37b2OSY (1a. col. "Arcoverde"); https://bit.ly/2UkDLaZ (1a. col. "Cinema: O “Cinema de Arte”de Arcoverde, dirigido pelo universitário Pedro Salviano Filho, apresentará no “Cine Rio Branco, (aos domingos, às 10 horas) a seguinte programação no decorrer dos meses de abril, maio e junho [1968]:  “Dois destinos” de Valerio Zurlini; “A mulher que pecou”, de Bryan Forbes; “A mulher sem rosto”, de Delbert Mann; “Gosto de mel”, de Tony Richardson; “Intriga internacional”, de Alfred Hitchcock; “A valsa dos toureadores”, de John Guilhermin; “O homem do prego”,  de Sidney Lumet; “A ponte de Waterloo”, de Melvyn Le Roy; “O repouso do guerreiro” de Roger Vadin e “Vidas secas”, de Nelson Pereira dos Santos.” Nos anos 60 funcionavam três cinemas na cidade: http://bit.ly/12yeJTn .
A atual reestruturação desta especial casa de espetáculos permite que o Cine Teatro Rio Branco continue sendo o mais idoso (em funcionamento) da América Latina e, ao mesmo tempo, vem torná-lo um dos mais modernos, inclusive mantendo o seu perfil inicial de também apresentar peças de teatro, resgatando o grande carinho que seus espectadores sempre lhe dedicaram.
Mais artigos desta coluna: https://bit.ly/3dINlfp









INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

© MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE. Recife 1972. Luís Wilson.
Pág. 259
Meu velho Cine Rio Branco
Em 1917, ou me parece que, mais exatamente, em 1918 [1919], Augusto Mouco (o Cel. Augusto Cavalcanti), daria a Rio Branco não só Luz Elétrica, mas um cinema, o meu velho e querido “Cine Rio Branco”, em cujo alpendre, na época em que meu pai era seu empresário, eu ia ler “Órfã na Costura” (II Livro de Leitura da Série Braga):
“Minha mãe era mui bela,
Eu me lembro tanto dela,
De tudo quanto era seu;
Minha mãe era bonita,
Era toda minha dita,
Era tudo e tudo meu”...
Naquele tempo, meu pai abriu uma porta no oitão do “Cine-Rio Branco” (lado da casa de Dr. Luís Coelho), que dava para uma área do chalezinho em que morávamos, vizinho ao cinema.
Meu pai anunciava, então, em meia dúzia de cartazes, que amarrava aos postes (de trilhos da Great Western) da Luz Elétrica da cidadezinha, para que o vento não os carregasse: “Hoje, Tom-Mix, Dedicado às Moças. Tiro Prá Peste, Aproveita, Negrada. Noé”.
Em meus irmãos o “velho” queria botar o nome de tudo quanto era artista de cinema. Arnaldo, hoje engenheiro-civil e engenheiro da Prefeitura do Recife, meu pai queria que se chamasse “Chico Boia” ou Buster Keaton. Meus outros dois irmãos, Cleomadson (médico do Serviço Nacional de Malária, no Recife), e Rod La Roque (engenheiro-agrônomo do Fomento Agrícola, em Caruaru), o jeito foi ficarem mesmo com os nomes de dois galãs do cinema naquele tempo.
Em 1919 [1922], no entanto, foi no “Cine Rio Branco” que elementos do comércio e da sociedade local, numa agitada reunião, insurgiram-se pela primeira vez, contra a condição de permanecer a cidadezinha como o 7º. Distrito de Pesqueira. Meu velho cinema representou, então, naquele ano, para Rio Branco, como que o mesmo papel que o Senado de Olinda, em 1710, para o Estado e o país, em relação à nossa Independência e à República.
Augusto Cavalcanti, que doou a Rio Branco não só a Luz Elétrica, mas o seu primeiro e único cinema (até alguns anos passados), era filho do Ministro do Supremo Tribunal Federal André Cavalcanti.

A GREI DE PANTALEÃO DE SIQUEIRA BARBOSA. AUGUSTO CAVALCANTI
O conhecido, e famoso em todo sertão, Pantaleão de Siqueira Barbosa (que chegou a Pernambuco em 1739 e morreu em 1793), senhor do grande latifúndio que era a fazenda Geritacó, da qual foram desmembradas outras fazendas que passaram a seus filhos, entre as quais Santana, Urubu, Piutá, Cacimbinha (Xilili) e o Brejo de São José, no atual município de Buíque (pertencente, hoje, aos herdeiros do Cel. Félix de França), teve os seguintes filhos:
1º – O Cap-mor Manuel José de Siqueira, fundador da fazenda Poço da Pesqueira (nome proveniente de um poço no riacho Santana). Que pela Lei Provincial n º 986, de 25 de julho de 1870, seria elevado à categoria de vila, com o nome de vila de Santa Águeda de Pesqueira, acontecendo que para ali, ainda em sua fase de “povoação”, pela Lei n º 20, de 1836, foi transferida a sede do velho município de Cimbres, primitiva Aldeia Monte Alegre, dos índios Xucurus, na Serra de Ororubá.
2º – Antônio de Siqueira Barbosa (que morreu solteiro).
3 º – O Cap. Luís Rodrigues de Siqueira, que reconstruiu a igrejinha de Geritacó, levantada pelo pai, sob a invocação de Santa Ana.
4 º – Maria de Ó Siqueira, que casou com Manuel Alves de Oliveira Melo, fundador, em Águas Belas, de um povoado que ainda hoje tem seu nome. Transferiu-se em 1810, para o Moxotó (Custódia).
5 º – João de Siqueira Barbosa, de cujas proezas se orgulhava o velho Pantaleão.
6 º – Joaquim Inácio de Siqueira Barbosa, que casou com dona Maria de Jesus Bezerra Cavalcanti, da qual teve 20 filhos. Eram chamados “os 20 de Pesqueira”.
Um dos filhos de Joaquim Inácio de Siqueira Barbosa, José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti (que casou com Maria da Penha Cavalcanti, irmã de Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque Arcoverde, pai do Cap. Budá), é o pai do Ministro André Cavalcanti, de quem eram filhos o Cel. Augusto Cavalcanti e seus irmãos.
INAUGURAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR SÉRGIO LORETO, A COLEÇÃO DE ARTISTAS DOS MAÇOS DE CIGARROS “VEADO”. LUGARES RESERVADOS NO CIRE-RIO BRANCO E O VELHO AMIGO VIRGÍLIO
Augusto Mouco, como era conhecido o Coronel Augusto Cavalcanti, foi para Rio Branco, mais ou menos, em 1915. Ali era criador, agricultor e industrial. Amigo e parente dele foi Napoleão Pacheco, que construiu ou administrou a construção do “Cine-Rio Branco”.
“Seu” Augusto era proprietário, também, ele e a família, da Usina Maria das Mercês, sendo casado, parece-me, com uma alemã. Em Rio Branco, casou outra vez, com Teodolina Freire, dizem que a moça mais bonita que viveu naquele mundo. O velho apaixonou-se. Teodolina era filha de “seu” Antônio e de dona Maria Freire, tia do nosso velho e saudoso amigo, o médico e Cel. Da Brigada Militar do Estado Álvaro Ferraz.
Quando, em 1924 ou em 1925, inauguraram o Grupo Escolar Sérgio Loreto (depois, Grupo Escolar 4 de Outubro), Teopompo, filho de “seu” Antônio e de dona Maria, estava em Rio Branco e cantou, em um dos intervalos das danças, lá para uma ou duas horas da manhã, acompanhado por 2 ou 3 violões:
“Lá, na serra altaneira
Onde a cachoeira passa a murmurar
A alma se inebria
Na doce harmonia
Do branco luar.

Sob um docel de estrela
Que supunha vê-la
Os olhos a brilhar,
O coração palpita e tudo agita
Ó como é belo amar”...

Eu cochilava em uma cadeira  da “festa”, perfumada com as flores de eucalipto com que alcatifaram os dois salões do Grupo Escolar. Acordei com a voz bonita de Teopompo e nunca mais, até hoje, esqueci a velha canção e seu cantor.
A casa que Augusto Mouco construiu, no “Tamboril”, em 1918, está ainda hoje de pé. Seria depois, no tempo do Dr. Francisco Saboya no sertão, a sede das Obras Contra Secas, e ali o Cel. Hospedou o Ministro André Cavalcanti, seu pai, quando este esteve o visitando naquele ano. Construiu a casa, aliás, para recebê-lo.
Contou-me Napoleão Pacheco que, por ocasião da visita, saíram um dia, o Ministro e Augusto, para a fazenda de um amigo ou parente, ali perto. Um dos “chauffeurs” da praça, na volta da viagem, cerca das 7 horas da noite, vinha numa carreira danada para não perder “o cinema”, onde assistia um dos bons filmes seriados da época. Augusto bateu no ombro do motorista e pediu que fosse mais devagar. O “camarada” respondeu que “aquele negócio” era para correr mesmo. Ele arrastou, então, o revólver, botou o cano na cabeça do homem e disse que “aquilo” era para atirar em cabra malcriado e safado.
O velho “chauffeur” perdeu, naquela noite, o episódio da “série” que estava acompanhando e tenho a impressão de que só não daria mesmo a vida para não perdê-la. O Coronel, que era uma parada dura, teria atirado mesmo na cabeça do homem, se ele não houvesse diminuído a marcha da fubicazinha.
Dizia-se em Rio Branco, quando eu era menino, que Augusto Cavalcanti havia morrido envenenado por uma pessoa da família de sua esposa e, assim pensava, também, o Dr. Leonardo Arcoverde, seu parente, seu amigo e quem o tratou, depois que ele ingeriu, em casa, certa porção de cerveja, com algum alimento, tendo viajado, doente, um ou dois dias mais tarde, para o Recife, onde morreu, em 1921.
Naquele ano, ou no anterior, foi que a Companhia de Cigarros Veado, do Rio de Janeiro, em homenagem à revista “Para Todos”, lançou no mercado um cigarro com este nome, distribuindo dentro de cada maço um retratinho colorido dos artistas de cinema da época e oferecendo prêmios, entre os quais um projetor “Pathé Baby” e máquinas fotográficas, a quem apresentasse a coleção completa daqueles artistas.
A garotada de Rio Branco, em 1924 e 1925, ainda fazia coleção dos artistas de cinema da Companhia de Cigarros Veado, do Rio de Janeiro. Jota Soares possui um álbum com toda aquela coleção e entre aqueles notáveis astros do cinema mudo, os mais conhecidos eram Glória Swanson, William Reid, Elmo Lincoln (o primeiro Tarzan do cinema), William Farnum, Waldemar Psilander, Viola Dana, Norma Talmadge, Lilliam Gish, Bronco Billie, Milton Sills, Marion Davis, Geraldine Farrar, Pola Negri, Jack Holt, Harry Carey, Clara Bow, Chico Boia (Roscoe Arbuckle), George Walsh, John Gilbert, Mary Pickford, Priscila Dean, William Powell, Jack Perrin, Hoot Gibson, Art Accord, Ruth Roland e Eddie Polo, que era o retrato mais difícil da coleção e tinha o nº 94.
Naquela época, era empresário do cinema, Sebastião Bezerra, pai de Lourdes e Nice, que morava na rua da estação, em um chalezinho, na última casa, com um pé de eucalipto na frente. Logo em seguida vinha um terreno de “seu” Yoyô e a sua mercearia (a Mercearia Progresso).
Muita gente, então, em Rio Branco, e por muitos anos depois, tinha lugar reservado no cinema. Ai pelos anos de 1926 e de 1927, “comadre” Caró, esposa do Dr. Leonardo Arcoverde, proprietário do cinema, e duas ou três amigas, entre as quais minha mãe, sentavam-se sempre em umas velhas cadeiras de vime, que ficavam bem atrás, lado direito, pertinho da cabine em que Dorotheu passava os filmes.
Depois de Dorotheu, o “operador” do “Cine-Rio Branco” foi Menininho, seguido de Expedito.
Manassés, que trabalhava na loja “A Sertaneja”, de Manuel Novaes, sentava-se no banco que ficava embaixo ou junto da sexta janela do cinema. Cada banco dava para 3 pessoas, apertadinhas. Ali, na mesma fila de Manassés, ficávamos eu, Pissu, Toinho, Waldemar do “seu” Sálvio, Diógenes e Lucídio.
Adelino Galindo gostava de sentar-se atrás, do lado esquerdo, ou do lado do Cruzeiro. Reclamava sempre porque todos os filmes, antes de começar, apresentavam os nomes de todos os artistas, o do produtor, o do diretor, e o negócio não parava mais. Aquela estória, para Adelino Galindo, era uma maçada dos diabos. O que ele queria, logo, com a meninada, era ver o filme.
Zezé Cavalcanti, (irmão de André), Wilson Porto, “compadre” Lodônio, Chico Bobina (Francisco Martins), Mário Caboré, Tércio, o negrinho Alexandre (que seria mais tarde o motorista de Dr. Saboya), Manoel Explosão, Totonho, Zé Bolieiro, Nelson Campos, Arthur, “Morte-Gulosa”, Manoel Fernandes, Luís Tavares e, enfim, a turma da “pesada” de Rio Branco, naquele tempo, era daquele lado que sentava.
Ali ficavam também Manuel de Zuza, tocador de “pratos” da Banda de Música e que chegou um dia na “Casa Sálvio Napoleão”, solfejando o “Danúbio Azul” e disse para o “gerente”: - “Seu” Waldemar, esta é uma música muito bonita, que eu gosto muito e que foi tirada do “Guarany” de “seu” Carlos Gomes”. Waldemar fez um ar de riso e Manuel de Zuza deixou de comprar brocha ou tacha na loja para sua oficinazinha de sapateiro.
A partir, mais ou menos, de 1932, o Dr. Francisco Saboya escolheu para seu lugar no “Cine-Rio Branco”, o sexto, ou sétimo banco, o da ponta e atrás (lado direito), Dona Maria do Carmo, a senhora mais bonita da cidadezinha, em sua época, ia muito menos ao cinema que o Dr. Saboya. Em sua frente sentavam-se Florismundo Oliveira, Dr. Pedrosa e dona Melinha, Doralice e Irene, Toinho de Laurinda (quando chegava atrasado e não encontrava lugar do lado esquerdo) e entre outras pessoas, meu parente Isaias Lima, pai de Maria Alice (falecida e que casou com Waldemar Lins), Ruy Gonçalves Lima, José Geraldo, Pe. Alberto, Maria Célia e Maria Iracy (casada com o ex-deputado Joselito Padilha).
As 4 ou 5 primeiras filas de bancos, pertinho do palco, eram a “geral”. Quando aparecia uma Companhia de Teatro, ou nos espetáculos que vez por outra organizavam, na “cidade”, a “geral” virava primeira, ou desaparecia, tirando-se a grade de madeira que a separava do resto do cinema. Ficava a “geral” no alpendre, aberto, onde fazia um frio de bater queixo, no inverno.
Não funcionava, diariamente, naquele tempo, a nossa casa de diversões, mas logo cedo se sabia quando havia uma “série” ou um “dramazinho” para nossa distração. A companhia do velho “Cine-Rio Branco” (que aliás, possuía luz própria), começava a tocar, à tardinha, quando acendiam as luzes da rua, às 5 e meia. Ali, com a meninada a gritar e, às vezes, a dar cada assovio, com dois dedos na boca, que era de doer nos ouvidos de todo o mundo, assistiu a cidade os grandes seriados daquela época: “Os mistérios do Bairro Chinês” (com Joe Bonomo), “Nas Garras dos Leões”, “O Cavaleiro Fantasma”, “O Punhal Misterioso”, “Marujo Valente”, “Conquistadores do Oeste”, “A Bala de Bronze”, “O Homem Leão” (com Jack Perrin), “Na Pista do Oregon” (com Art Accord e Louise Lorraine), “Perigos Ocultos”, “Herança Fatal” (20 episódios, com Eddie Polo, Mary Valcamp, Jack Holt e Neal Hart), “Os 4 Agentes Secretos”, “Robson Crusoe”, “Tentáculos de Aço”, “O Cavaleiro das Sombras” (com William Desmond), “Roleaux, o Invencível”, “O Homem da Meia Noite”, “Elmo, o Destemido”, Disco de Fogo”, e, entre muitos outros, “As Aventuras de Tarzan”.
Os nomes de alguns daqueles seriados eram mais ou menos os mesmos dos filmes que Virgílio (filho de “seu” Tadiu), inventava. Só quando ele estava danado da vida era que os títulos de seus filmes ficavam meio impróprios.
O negócio de Virgílio era ser artista de cinema e se se quisesse vê-lo alegre, era chama-lo de “Lloyd”. Ai ele abria logo o tabaqueiro e, satisfeito da vida, tomava uma ou duas pitadas com toda força.
Certa ocasião, Maninho Japyassu conversava com Virgílio em frente à casa de “seu” André Cavalcanti, na calçada do armazém da Rossback, do qual era gerente Álvaro Soares, e lhe disse o seguinte: - “Lloyd, você com esse seu novo filme que passou, ontem, no cinema, vai ganhar mais de um milhão de dólares” (todo filme que passava, em Rio Branco, era de Virgílio e era ele o artista do mesmo). Virgílio tomou umas duas pitadas, sorriu e respondeu: - “É mais ou menos isso mesmo. Me dá ai 5 mil réis e quando receber o dinheiro da “Paramount” eu pago”.
Virgílio, que se dizia artista exclusivo daquela companhia cinematográfica, afirmava sempre que não gostava muito de Toinho de Laurinda, porque Toinho pedia para trabalhar com ele em seus filmes e só entrava em cena beijando logo as mocinhas. – “Vocês acham que os pais das moças vão gostar?”. Virgílio era um moral de “tinir” quando não puxavam muito por ele.
O PIANO DE DONA AMÉLIA E A FLAUTA DO DR. ROMEU. OS DISCOS DO CINEMA. GRANDES FILMES E GRANDES ASTROS.
Tocavam, no meu tempo de menino, no “Cine-Rio Branco”, o Dr. Romeu e dona Amélia, que moravam na rua do Grito, vizinho à casa do “seu” Benzinho Vidal, quase em frente à dona Santa, mãe de Zé Benoni. Entre muitas outras valsas, ouvíamos sempre “Há um Segredo em teus Cabelos”, “A Valsa do Adeus”, “A dor calada é a mais Sentida”, “Retorno à Vida”, “Em Festa o Coração”, “Elegantíssima”, “Beijo-te a boca e os Olhos”, “Carminha”, “Sonho de Amor”, “Aurora”, “Longe dos Olhos”, “Rosa Desfolhada”, “Só pelo amor vale a Vida”, “Glória”, “Primavera de Amor”, “Célia”, “Despertar da Montanha”, “Tardes de Lindoia”, “Branca”...
“Há tempos que a vi
Que a conheci
Branca era um lindo primor, de amor,
Que a solidão me deixou
Mas também sofreu
Eu sei vou contar
Tão lindos aqueles olhos
Cansados de chorar”...
A gente tem saudades, às vezes, de tudo quanto é besteira nesta vida. Tenho saudade, hoje, do piano de dona Amélia e da flauta do Dr. Romeu, a tocarem, à noite, no cinema a bonita valsa que Zequinha de Abreu fez em 1918 ou 1919, para Branca Barreto, filha do chefe da Estação de Santa Rita de Passa Quatro, no interior de São Paulo.
Não me recordo mais em que ano o Dr. Romero e dona Amélia foram embora de Rio Branco. Silvinha, filha de dona Amélia, casou com um rapaz do Recife, que uma ou duas vezes, em que esteve em Rio Branco, soltava papagaio quase no oitão da casa de “seu” Leonardo Pacheco, atrás do chalezinho de dona Amélia, na rua do Grito. Mozart, o outro filho, vivia no Recife.
No tempo de Waldemar de Sálvio e Zezé de Santino, como empresários do cinema, possuía o “Cine-Rio Branco” uma radiola. Escutávamos, então, em vez da flauta do Dr. Romeu e do piano de dona Amélia, os discos do cinema: “No Jardim de um Templo Chinês”, “A Lenda do Beijo”, “Leda”, “A Viúva Alegre”, “A Valsa dos Patinadores”, “O Lago dos Cisnes”, “O Barão Cigano”, “No Jardim de um Mosteiro”, “Danúbio Azul”, “As Joias de Madona”, “Amigo Fritz”, “Carmem”, “Num Mercado Persa”, “Rigoleto”, “Conto dos Bosques de Viena” e muitos outros.
Zezé de Santino comprou em 1934, o “Cine-Rio Branco” ao Dr. Leonardo Arcoverde, por 7 contos de réis. Vendeu-o, em 1942, ao Dr. Pedrosa, por 27 contos.
Antes, no entanto, de Waldemar e Zezé, outros grandes filmes lá exibidos foram “Os Miseráveis”, “Uma Filha dos Deuses”, “Romance de uma moça Pobre”, “Cleópatra”, “Monsieur Beaucaire”, “O Corcunda de Notre Dame”, “Os 4 Diabos”, “Fantomas”, “Os 4 Cavalheiros do Apocalipse”, “O Fantasma da Ópera”, “Joana D´Arc”, “A Mulher que Deus Esqueceu”, “O Conde de Monte Cristo”, “A Águia”, “Trindade Maldita”, “O Homem Que Ri” e, ainda entre muitos e muitos, “Sangue e Areia” (com Rodolfo Valentino). Nenhum outro astro, sem dúvida, no cinema, em todos os tempos, exerceu maior atração sobre as mulheres do que Valentino e nenhum outro foi, também, mais infeliz nos seus amores.
Havia um grupo de meninos prodígios no cinema, que era qualquer coisa de notável: Shirley Temple, Jackie Coogan, Fred Bartholomew, Baby Peggy e “Chuca-Chuca”. Além destes, existia uma turma que pintava o sete, na tela. Era a meninada de “Nossa Gang” (comédias de duas partes), da qual faziam parte Jean Darling, Joe Cob, “Farina” (o negrinho), Mary Ane, Harry, Whise e o cachorrinho do olho preto.
Hoje já não há quase nada em Hollywood. O imposto de Renda e a Televisão como que liquidaram a estupenda cidade do cinema. Hollywood cometeu a tolice de vender para a TV, em 1940, cerca de 5.700 filmes.
A inocente Jean Darling de nossa quadra de menino, casada e riquíssima, adquiriu, então, todas as comédias de “Nossa Gang” e firmou contrato com várias Emissoras de Televisão para as exibições na “Hora do Jantar”. Os pequenos filmes que foram, para nós, e para as crianças de todo o mundo, como que a coisa mais deliciosa desta vida, entre os anos de 1923 a 1928, são, desde 1957 ou 1958, a coqueluche da Televisão nos Estados Unidos.
Quase acabou também a TV com o circo, na Bulgária, Hungria e Tchecoslováquia, países onde gostam tanto de circo, como nós de cinema. As estações de televisão firmaram contrato com os grandes circos e estão fazendo, com seus extraordinários espetáculos, o mesmo que nos Estados Unidos, com os 5.700 filmes comprados a Hollywood, inclusive os de “Nossa Gang”.
Entre os anos de 1924 e 1932, assistimos também no “Cine-Rio Branco” entre outros filmes de Charlie Chaplin, “Um Idílio nos Campos” (3 partes, 1919), “O Garoto” (6 partes, 1920), “Dia de Pagamento” (2 partes, 1922), e “O Pastor de Almas” (4 partes, 1923).
Em 1925 Carlitos nos dava “Em Busca do Ouro”, considerada pelos críticos a maior comédia de todos os tempos. Em 1928, apresentou-nos “O Circo”.
Em 1931 nos deu Chaplin – “Luzes da Cidade” (onde faz críticas ao cinema falado, do qual era inimigo). Vieram depois “Tempos Modernos”, “O Grande Ditador” e “Luzes da Ribalta”.
JOTA SOARES COM “AITARÉ DA PRAIA”. A PRIMEIRA SEÇÃO CINEMATOGRÁFICA DO MUNDO. O CINEMA FALADO.
Em 1925, Jota Soares esteve no “Cine-Rio Branco” para apresentar o filme – “Aitaré da Praia”, voltando, no ano seguinte, com “A Filha do Advogado”, do qual foi diretor e artista. Festa na cidadezinha e os tijolos do cinema cobertos de folha de eucalipto ou de canela.
Um dos pioneiros do cinema nacional, entre os anos de 1923 e 1931, Jota Soares, com pouco mais de 20 anos de idade, era diretor de cena, operador, astro e homem de laboratório, no Recife, tendo hoje seu nome citado em 42 livros nacionais e estrangeiros.
Existiam no Recife, 13 empresas cinematográficas, tendo produzido 18 filmes. Jota Soares possui em seus Arquivos (uma coisa impressionante, em matéria de cinema), 15 celuloides completos daquelas películas, entre as quais: “Retribuição”, “Jurando Vingar”, “História de uma Alma”, “Veneza Americana” e “A Chegada de Jahu”.
Foi, no entanto, no dia 28 de dezembro de 1895, em um salão do Grão-Café, no subsolo do Boulevard dos Capuchinhos, nº 14, em Paris, com 30 ingressos vendidos a um franco cada um e alguns convites distribuídos pelos irmãos Luís e Augusto Lumière, que foi lançado para o público o primeiro espetáculo cinematográfico do mundo.
No dia 23 de dezembro de 1927, a “Warner Brothers”, lança em New York o cinema falado, com o filme “O Cantor de Jazz”, cujo intérprete foi Al Jolson. Entrava o cinema em sua época de ouro, com o consórcio “imagem-som”.
No Brasil, o cinema falado foi inaugurado, no Rio de Janeiro, em agosto de 1929, e, no Recife, a 31 de março de 1930, no “Cine-Parque”. A película escolhida para aquelas inaugurações foi “Broadway Melody”, da Metro, com Charles King, Bessie Love e Anita Page.
Uma semana antes, ou seja, a 24 de março de 1930, inaugurava o “Cine-Parque” o cinema sonoro, com o filme “A Divina Dama”, estrelando Corine Griffith. Não havia palavras, era somente ruídos.
O Parque abriu suas portas, como cinema, no dia 29 de julho de 1929, com o filme “Bem-Hur”, de Ramon Novarro, silencioso. Antes era somente teatro.
Em Rio Branco, o cinema falado foi inaugurado no dia 23 de dezembro de 1934. Zezé de Santino era o empresário, ou seja, o proprietário do “Cine-Rio Branco” e o filme escolhido havia sido – “O Meu Boi Morreu” (com Eddie Cantor). Passou, no entanto, “Viena de Meus Amores”.
SENHORINHAS DE PESQUEIRA VÃO AO “CINE-RIO BRANCO”.  A COMPANHIA CONCEIÇÃO FERREIRA. BARRETO JUNIOR. SALOMÃO ABSALÃO.
O “Cine-Rio Branco” era também teatro até 1938 ou 1940. Não sei se ainda hoje é a mesma coisa. Nos últimos anos da década de 20, um grupo de mocinhas e rapazes da alta sociedade de Pesqueira esteve lá, levando ao palco parece-me que uma “revista”. O que recordo é que o espetáculo foi um sucesso e Nice, filha de Praxedes Didier e irmã de meus velhos amigos Walter e Pira, cantou uma canção que, entre outras coisas, dizia:
“Não me desprezes, princesa,
Por seres filha do Rei”...
Era uma modinha, não sei se de autoria do maestro Thomaz de Aquino, bonita, melodiosa e triste.
Mais ou menos na mesma época, fizeram sucesso, também, no “Cine-Rio Branco”, um mágico chamado D. Cordeiro, a “Companhia Conceição Ferreira” e um “grupo” do Recife, do qual fazia parte Ary Guimarães, que eu voltaria a encontrar anos depois, em todas as “Festas da Mocidade”, na capital, fazendo o papel de “turco da prestação”, com o nome de Salomão Absalão.
Conceição Ferreira (uma portuguesinha muito bonita), esteve em Rio Branco com Barreto Junior (nosso formidável Barreto!), então muito moço, mas já um dos principais artistas da “Companhia”, e Aluísio Campelo. Barreto abafou a banca, e Conceição, nem é bom falar. O cinema quase veio abaixo quando ela cantou:
“Uma noite tão triste de inverno,
A Langosta eu vira passar,
Com um traje marrom bem talhado
E uma vaga tristeza no olhar”...
Alcides Malaquias, que era dono de uma grande loja de tecidos, em Rio Branco e, parece-me que, naquele tempo, empresário do cinema, apaixonou-se por Conceição, que era, de fato, bonita e já em Pesqueira, deixara o major Cândido de Brito com a cabeça virada. O major ia quase todas as noites a Rio Branco.
Tenho a impressão de que em cada lugar onde passou, Conceição deixou um apaixonado.
Naquele tempo, Estácio Coimbra, Governador do Estado, nomeou para Secretário da Educação, o Dr. Antônio Carneiro Leão, encarregado de efetuar uma reforma no Ensino. Veio, então, um técnico de São Paulo, o prof. Escobar, que chegou ao Recife nos primeiros meses de 1929. E incluiu em seu novo plano de ensino pontos sobre a fisiologia dos sapos, das minhocas e a fecundação dos ratos, com aulas práticas para professores, na fazenda Modelo, em Tejipió. O negócio terminou numa encrenca dos diabos. A Igreja, que ainda não era muito “prá frente”, protestou. O Pe. Manuel Negreiros fez um sermão, na Igreja da Boa Vista, que acabou de tocar fogo na estória. O plano de ensino de Escobar, passou para o anedotário dos cafés da rua Nova e para as graçolas de teatro. Salomão Absalão fez sucesso, naquela quadra, em Rio Branco, cantando com a música de “Ai seu doutor”:

“Ai Escobar, ai Escobar
As malas vá logo arrumar,
Ai Escobar, ai Escobar
De Pernambuco vais voar”...
Depois cantou Ary Guimarães, e foi outro sucesso, com a música de “Gosto que me Enrosco” (ou “Cassino Maxixe”):
Dizem que o programa da Normal
Tem coisas que eu não posso acreditar
Que tem sapos, minhocas, lagartixas
E como o sapo faz para casar.

Gosto que me enrosco
De pensar só
No que lá em casa vai dizer vovó
Quando a Zizi contar tudo que viu
E que assistiu
Lá em Tejipió”...
Anos mais tarde, mais ou menos em 1940, Zé Campos, Esterzinha e outras moças e rapazes de Rio Branco andaram também “trabalhando” no palco do nosso cinema, em uns espetáculos que dona Maria do Carmo Saboya organizava, não sei se em benefício da Sociedade São Vicente de Paula, Zé Campos, um rapaz bonito, fazia o papel de cigano, com um lenço amarrado na cabeça.
“O JARDIM DO ÉDEN”. LAURO GOMES
A semana santa, em todo o país, e parece-me que particularmente no sertão, até a segunda ou terceira década do século, era, na realidade, quase toda consagrada à expiação de faltas e a sacrifícios propiciatórios.
Em Rio Branco, assim que o Pe. Joãozinho, e depois o Pe. Luís de Góes, levantavam a antífona das Trevas, cobriam os santos da Igrejinha de Nossa Senhora do Livramento, entre os quais Nossa Senhora, o Coração de Jesus e São Sebastião, com uns panos roxos. O corpo da Igreja, o corredor (do lado esquerdo) e a própria sacristia, eram sempre cheios de “matutos” das fazendas e sítios, além dos católicos da cidadezinha, para as confissões.
Na quinta-feira santa, era o “lava-pés” de 11 meninos, no meio dos quais em estava, vez por outra.
Na quinta e na sexta-feira da Paixão, o sino da Igrejinha não tocava, o trem não corria, os carros de praça paravam, não se cortava cabelo, não se fazia barba, não se tomava banho, não se varria casa e menino não apanhava. No cinema, o único filme era a “Paixão de Cristo” ou outro muito religioso e sacro.
Alcides Malaquias (empresário do “Cine-Rio Branco”), mais ou menos na semana santa de 1928, veio ao Recife atrás da Paixão de Cristo, mas não conseguiu uma cópia da película. Mandaram, então, que ele levasse “O Jardim do Éden”.
Não sei se Alcides pensou que se tratava, na realidade, de um filme sacro, ou se o que não quis foi deixar de ganhar um bom cobre, na quinta-feira santa e na sexta-feira da Paixão, dias em que o cinema ficava tinindo de gente, todos os anos.
O “Jardim do Éden”, não tinha coisa alguma de sacro e até parece que foi o filme “mais livre” exibido no velho cinema. Só um propósito. Muitas pessoas logo depois da primeira ou segunda parte, foram cuidando de deixar o salão de projeção do cinema e queriam o dinheiro do ingresso de volta.
A confusão estava feita. Saíram do “Cine-Rio Branco” e foram falar com o tenente Caçula, que era o delegado do “distrito”. Aquilo era um desrespeito à quinta-feira Santa (na sexta, o filme não passou mais) e à família católica de Rio Branco.
O Cel. Antônio Japyassu, chefe político da “cidade” e parente e amigo de Alcides, foi quem ajeitou as coisas, alegando, ou conseguindo convencer as velhas mais indignadas de que Alcides havia sido enganado pela “Companhia”, no Recife. Um soldado, ordenança do Coronel, concluiu, na calçada da padaria de meu pai, vizinha à casa de “seu” Tonho, que Alcides não era “bode”, “não tinha culpa de nada”.
Vez por outra, nos “espetáculos” organizados, em Rio Branco, cantava “seu” Lauro  Gomes, que era Caixa do Banco do Brasil, na outra esquina do beco de “seu” Santino:
“Deixa a cidade
Formosa Morena
Linda pequena
E volta ao sertão
Beber a água
Da fonte que canta
Que se levanta
No meio do chão”...
Daqui em diante, Lauro, que usava umas costeletas compridas e grossas, caprichava bem na voz e continuava:
“E a fonte a cantar
Chuá, chuá
E a água a correr
Chuê, chuê”...
Lauro era o nosso Vicente Celestino ou o nosso Augusto Calheiros.



©ROTEIRO DE VELHOS E GRANDES SERTANEJOS. 1 Volume. Luiz Wilson.  Recife, 1978. Pág.359-367
Augusto de Albuquerque Cavalcanti (Cel. Augusto Cavalcanti)
O velho português e Mestre-de-campo da Ribeira do Moxotó, Pantaleão de Siqueira Barbosa, ali chegado na primeira metade do século XVIII, casou com Ana Leite de Oliveira (filha única de Belchior Leite de Oliveira) e deixou o casal 7 filhos, todos eles famosos, entre os quais o Cel. Joaquim Inácio de Siqueira Barbosa, que casou com Maria de Jesus Bezerra Cavalcanti e foram os pais de 20 filhos (“os 20 de Pesqueira”), um dos quais (o 20º), o Cel. José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti.
Este casou-se com D. Maria da Penha Cavalcanti, filha de Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque Arcoverde e de Teresa de Siqueira Cavalcanti, que foram também os pais, entre outros filhos, do Capitão Budá, pai de D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.
O Cel. José Camelo e sua esposa D. Maria da Penha Cavalcanti foram os pais do Ministro do Supremo Tribunal Federal, André de Albuquerque Cavalcanti (André Cavalcanti).
Em uma das margens do Rio Ipojuca, no município do mesmo nome, no Litoral do Estado, levantavam-se, outrora, três engenhos (depois Usina Nossa Senhora da Mercês), “e foi ali, entre o cheiro de mel e de cana fermentada, que André Cavalcanti veio ao Mundo, em 1845”.
Conta-se que, naquele dia, descansava perto do “engenho!, de caminho para Amaragi, um grupo de ciganos e, supersticioso como todo sertanejo, seu pai mandou chamar uma das ciganas do bando e pediu que lesse a mão do garoto (1) – v. Humberto de Campos, “Perfis”, Segunda Série, José Olympio Editora, Rio, 1936.
- “Há de ser como outros do mesmo sangue, um grande nome da família. Se nascer outro homem da mesma raça dentro de cinco anos, a estrela dele brilhará menos; senão há de ser uma grande figura vestida de vermelho, vestida de encarnado”.
O nefelibatismo da predição não esclareceu em coisa alguma o proprietário da “Nossa Senhora das Mercês”, concluindo-se, no entanto, muitos anos mais tarde, que se não houvesse nascido cinco anos depois, da mesma família, o menino Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, teria sido, talvez, o garoto André, filho do casal Cel. José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti, o primeiro Cardeal do Brasil e da América Latina.
Bacharel em Ciências Jurídicas Sociais, André de Albuquerque Cavalcanti, conforme Clóvis Beviiláqua (“História da Faculdade de Direito do Recife”), “fez parte da turma de 1864 de nossa velha Faculdade, nasceu em Pesqueira (não diz o ano), representou o seu Estado na Constituinte Republicana e foi Chefe de Polícia da Paraíba e Juiz Municipal de Pedras Fogo (também naquele Estado), falecendo em 1927”, tenho a impressão que no Rio de Janeiro.
Vivia já em Ipojuca, licenciado da Magistratura, quando veio a República e, por influência de D. Joaquim Arcoverde, naquela época Bispo do Rio de Janeiro, foi nomeado por Prudente de Morais, Chefe da Polícia da Capital.
Quando Campos Sales subiu ao poder, sendo indicado Sampaio Ferraz para a Chefia de Polícia, ainda por iniciativa de D. Joaquim, foi nomeado André Cavalcanti para a primeira vaga do Supremo Tribunal Federal.
Entre outros, são filhos do velho Ministro, o Cel. Augusto Cavalcanti (Augusto Mouco), que foi para Rio Branco (Arcoverde), em 1915 ou 1916.
Usineiro no Litoral, e criador, agricultor, proprietário e industrial no Sertão, foi Augusto Cavalcanti a maior figura, talvez, do Rio Branco na sua época.
Diz-se que casado com uma alemã (tenho a impressão que no Rio de Janeiro), em sua nova “cidadezinha” casou outra vez com Teodulina Freire, garota de rara beleza, pela qual se apaixonara, filha de “seu” Antônio e D. Maria Freire (Maria Ferraz).
Contou-me José Duque, que para a celebração do casamento, declaram, em Juízo, que Augusto Cavalcanti era solteiro, não me recordo, se entre outros, o Cel. Arcelino de Brito, o Cel. José Estrela e Epaminondas Santos. Com Napoleão Pacheco, seu parente e velho e grande amigo, por não ter declarado a mesma coisa (como lhe pedira o velho), andou alguns dias meio aborrecido Augusto Mouco.
A “cidadezinha” dava, naquela época, como que o seu primeiro passo para o futuro, com a chegada ao lugar 3 ou 4 anos antes dos trilhos da “Great Western” e a inauguração de sua pequena “Estação”, na qual escreveram o seu novo nome “BARÃO DO RIO BRANCO”.
Foi, todavia, Augusto Cavalcanti, que em 1917 deu a “minha cidadezinha” o seu primeiro, e durante mais de 20 anos, o seu único cinema e teatro, o meu velho “Cine Rio Branco”, encarregando de sua administração e construção o seu grande amigo e parente Antônio Napoleão Pacheco de Albuquerque (hoje com 91 ou 92 anos de idade), e, ali assistiu a cidade os primeiros filmes de Edie Polo, de Jack Perrin, de Joe Bonomo, Art Acord, Jack Holt, William Desmond, Charles Chaplin, Rodolfo Valentino, Ramon Navarro, Gary Cooper, Shirley Temple, Jackie Coogan e, entre muitos outros, “Chuca-Chuca”, Jean Darling e Joe Cob.
Em meu velho cinema foi que assistiu também em 1934 (dia 23 de dezembro), quando era seu empresário (ou não sei se já seu proprietário) “Zezé” do “seu” Santinho, o seu primeiro filme falado, que devia ter sido “O Meu Boi Morreu”, com Eddie Cantor, passando, no entanto, “Viena de Meus Amores”.
Mais ou menos em 1917, foi também Augusto Mouco que iluminou a sua nova cidadezinha com luz elétrica. O velho “motor” ficava no antigo beco, quase em frente à padaria que em 1920 passou a pertencer a “seu” Noé e é hoje, totalmente modificada (mas ainda com o mesmo nome – “Padaria Confiança”) dos filhos de “seu” Joaquim Neves (“seu” Joaquim Domingos), de Umbuzeiro, Estado da Paraíba. Em minha infância era o “Beco do Motor Luz”, Hoje é o “Beco de Dr. Luiz Coelho”.
No mesmo prédio em que ficava o “motor da luz” de Rio Branco, Augusto Cavalcanti tinha também uma fábrica de angico ou tanino. Lá atrás, com a frente voltada para o Rio da Rua Velha (ou o Riacho do Mel), 5 ou 6 banheiros que uma boa velhinha, avó de Zé da Tapioca tomava conta. Eram, na realidade, os banheiros da cidadezinha e era ali ou em “seu” Jé que se tomava banho. Rio Branco não tinha talvez, até 1925 ou 1927, 15 ou 20 casas com “banheiro próprio” e, de qualquer modo a água era pouca e vinha de “seu” Jé nos jumentos de Bertinho (que trabalhava na residência do Cel. Antônio Japyassu) e, entre outros, nos de Expedito e Zé Castigo. A água boa, a água de beber iam buscar na Serra das Varas, uma ou duas vezes por semana.
A partir de 1929, a “Sanbra” (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro), ou não sei se ainda “Pinto Alves & Cia” (e era, então, Ernesto Lima o seu gerente em Rio Branco), passou a fornecer luz elétrica ao Município. O motor do Cel. Augusto Cavalcanti deixava-nos, vez por outra, 15, 20 dias e um mês sem luz, voltando, então, a s velas (primitivamente de sebo e depois de cêra, estearina ou espermacete), as velhas candeias de azeite de carrapato, os candeeiros (ou os alcoviteiros) e as lâmpadas a álcool a iluminarem as casas de comércio e de residência da “cidadezinha”.
No trecho da atual Avenida Cel. Antônio Japyassu, em que ficava a padaria que era do meu pai, um bico de carbureto, em cima do balcão, como que iluminava toda a rua, em frente à padaria, até às 8 e às 9 horas da noite, com o velho conversando com os amigos.
O Recife, conta-se que viu pela primeira vez a “luz elétrica”, em outubro de 1873, quando o vapor inglês “Eothen”, que a utilizava, ancorou em nosso porto, tendo sido objeto não apenas de curiosidade, “mas de espanto e admiração, não faltando quem aludisse a um castigo do céu, pois então a célebre “Questão Religiosa” entre o Governo Imperial e o Bispo D. Frei Vital, chegava ao auge” ( - v. Fausto Agnelo, “De candeia de Azeite à Lâmpada Elétrica”, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Vitória de Santo Antão, vol 5, 1973).
Só tivemos, no entanto, em nossa Capital, um serviço público de iluminação elétrica, regular e definitivo, com a “Pernambuco Tramways”, que adquiriu a “Ferro-Caril” e outras companhias de transporte coletivo por energia elétrica, substituindo o serviço de iluminação a gás pelo de eletricidade, inaugurando o primeiro trecho no centro da cidade em 28 de março de 1919”. (- v. Fausto Agnelo, “De candeia de Azeite à Lâmpada Elétrica”, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Vitória de Santo Antão, vol. 5, 1973. págs. 66 e 67).
O serviço de iluminação pública do Recife, com lampeões contendo candeias de azeite de carrapato, foi inaugurado em maio de 1822, tendo sido arrematado em 1834 (conforme Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, vol. VIII), à razão de 116 réis por lampeão, o que importava, para os cofres públicos, uma despesa anual de 1.250$208, na moeda então vigente. A 26 de abril de 1859 foi inaugurado no Bairro do Recife o serviço de iluminação a gás carbônico, seguindo-se logo depois o dos outros bairros.
Augusto Mouco, no entanto, em 1918, para receber o pai em Rio Branco (o Ministro André Cavalcanti), mandou construir uma bela residência, a um lado do “Tamboril”, que a partir de 1931 ou 1932 (época do Dr. Francisco Saboia), foi durante muitos anos a sede das “Obras Contra Secas” nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.
Menino pobre, filho de um pobre “mascate” de Rio Branco, só na “fidalga” Pesqueira (como que a Capital do mundo de minha infância), vi, naquele tempo, casas tão grandes e tão bonitas. O Palácio de D. José, a residência do Major Cândico de Brito (da Fábrica Peixe), a do Comendador José Didier (da Fábrica Rosa), a do Conselheiro José de Almeida Maciel (vizinha do Palácio do Bispo), a de “seu” Praxedes Didier, a de D. Argentina (mãe de Milton e Leonorzinha)...
Não sei se Augusto Cavalcanti deixou filhos com a alemã com a qual casou no Rio de Janeiro, tendo deixado de Teodolina um único filho (André), e com D. Francisca Josefa Maia (Engenho Utinga de Baixo, Usina Nossa Senhora das Mercês), filha do casal Francisco – D. Carolina Maia, proprietária em Suape (Cabo de Santo Agostinho), 4 filhos, criados pelos irmãos do Coronel (Adolfo, Arthur e Amaro): 1º. – Maria José Cavalcanti, que casou com João de Jesus Pereira. Sucessão: Etevaldo de Jesus Pereira (casado, com filhos), Maria Isabel (solteira), Marisa (casada, com filhos) e Marlene (que casou com Antônio Alves Carneiro, pais de Marco, Antônio, Marlene, Marisa, Antônio Carlos, Marília, Marcílio, Mônica e Antônio, todos residentes em Arcoverde há algum tempo). 2º. – Maria Augusta, solteira. 3º. – José Augusto, que casou com D. Yolanda, com sucessão. 4º. – Maria Aurea, esposa de Milton Lima.
Falecido aos 45 ou 50 anos de idade, em 1921, no Recife, para onde viajara doente de Rio Branco, acompanhado do seu primo e velho amigo Dr. Leonardo Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, conta-se que envenenado por uma pessoa da família da moça bonita pela qual se apaixonara perdidamente e com a qual casara no Sertão, Augusto Mouco foi o maior benfeitor, talvez, da cidadezinha de Rio Branco de sua época.
Foto
O Cel. Augusto (de Albuquerque) Cavalcanti (Augusto Mouco).

Outra foto:
Teodorina Freire, com a qual casou em Rio Branco o Coronel Augusto Cavalcanti.

© Município de Arcoverde (Rio Branco). Cronologia e outras notas. Luis Wilson. Recife, PE. 1982 https://bit.ly/3hcNvxK
Pág. 85:
1917 – O Cel. Augusto Cavalcanti manda construir o “Cine-Rio Branco”, tendo o Recife o seu primeiro cinema a 27 de julho de 1909, o “Pathé”, na Rua Barão de Vitória (Rua Nova), nº 45. Apareceriam depois o “Royal”, também na Rua Nova (dia 6 de novembro), o “Helvética”, na Rua da Imperatriz (março de 1910), o “Moderno” (1913)...
Ainda em 1917, Augusto Cavalcanti (Augusto Mouco), ilumina também com luz elétrica a sua “cidadezinha”. O motor ficava no beco que da passagem de nossa atual Avenida Cel. Antônio Japyassu para a Rua Velha, hoje, “Beco de Dr. Luís Coelho”. Era antes o “Beco do Motor da Luz”.
Nossas ruas não foram iluminadas antes com lampiões de gás, como aconteceu com as do Recife, as de Pesqueira e as de outras cidades do interior do Estado, não tendo tido, assim, Olho d´Água dos Bredos ou Rio Branco, em outra época, o seu “acendedor de lampiões”.
No Recife, o primeiro contrato para o fornecimento daquele tipo de iluminação data de 1819, tendo sido celebrado entre o Governo da Província e a firma “Guilherme Day”, sediada em Londres, só, no entanto, a 26 de abril de 1859 sendo inaugurado aquele serviço no bairro do Recife e depois nos outros bairros.
Em 1873 foi que o recifense viu a luz elétrica pela primeira vez, quando o vapor “Eothen, que a utilizava, ancorou em nosso porto, sendo objeto de curiosidade e de espanto, não faltando quem aludisse a um castigo do céu, pois então a célebre questão entre o Governo Imperial e D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (D. Vital), chegava ao auge (v. Fausto Ângelo, “Da Candeia de Azeite à Lâmpada Elétrica”, in REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, vol. 5º., 1975).
No fim do século passado algumas casas comerciais já adotavam (com motores próprios), entre as quais o Mercado do Derbi (do Cel. Delmiro Augusto da Cruz Gouveia), a Fotografia Chic, Madame Júlia e, entre nossos estabelecimentos públicos, o Hospital D. Pedro II.
Foi a “Pernambuco Tramways” que deu ao Recife um serviço de iluminação elétrica regular e definitivo, adquirindo a “Ferro Carril” e outras companhias de trens suburbanos, e, em 1913, a “Companhia de Gás”, estabelecendo o transporte coletivo por energia elétrica e substituindo nosso serviço de iluminação a gás pelo de eletricidade, o primeiro trecho do Recife, no centro da cidade, tendo sido inaugurado a 28 de março de 1919, muitas de nossas ruas, ainda, no entanto, em 1940, sendo iluminadas com lampiões de gás carbônico.
Ainda naquele ano de 1917, a Rua Velha (nossa primeira rua), passa a ser denominada “Rua Leonardo Pacheco Couto” (v. José de Almeida Maciel, A VOZ DE PESQUEIRA, edições de 13, 20 e 27 de novembro de 1949, in PESQUEIRA E O ANTIGO TERMO DE CIMBRES, Biblioteca Pernambucana de História Municipal, vol. 9, pág. 145, Fundação de Desenvolvimento dos Municípios do Interior de Pernambuco, Secretaria de Planejamento, Governo do Estado, Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), 1980.
Pág. 92:
...”Também em 1919, movimento de elementos do comércio local, no sentido de emancipação de Rio Branco do Município de Pesqueira.
Em agitada reunião em nosso velho cinema, comprometiam-se a não mais pagarem impostos àquele Município, dando notícia da resolução a dois jornais do Rio de Janeiro, A NOITE e O JORNAL, dos quais era correspondente em Rio Branco, Antônio Napoleão.”
Pág. 93:
...”Visita também o filho, Cel. Augusto Cavalcanti (Augusto Mouco), em Rio Branco, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dr. André Cavalcanti.
Foi para receber o pai que o Coronel mandou construir uma de nossas mais belas casas de residência, algum tempo depois vizinha à feira de gado do Tamboril e onde esteve entre os anos de 1932 e 1936, em Rio Branco, as Obras Contra Secas.”
Pág. 95:
“1921 – Morre no Recife, aos 45 ou 50 anos de idade, para onde viajara, acompanhado de seu primo, de seu médico e velho amigo, Dr. Leonardo Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o Cel. Augusto Cavalcanti (Augusto de Albuquerque Cavalcanti), o maior benfeitor, talvez de Rio Branco, em sua época. É voz corrente que fora envenenado por uma pessoa da família de sua esposa.
Era filho do Ministro do Supremo Tribunal, Dr. André Cavalcanti, filho do Cel. José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti e de sua esposa D. Maria da Penha Cavalcanti. O Cel. José Camelo Pessoa de Siqueira Cavalcanti (um dos “20 de Pesqueira”), filho de D. Maria de Jesus Bezerra Cavalcanti e do Capitão-Comandante do Moxotó, Joaquim Inácio de Siqueira, filho do Mestre-de-Campo e desbravador da Região Centro do Moxotó, Pantaleão de Siqueira Barbosa. D. Maria da Penha Cavalcanti, filha de Jerônimo de Albuquerque Arcoverde e de sua esposa D. Tereza de Siqueira Cavalcanti (pais do capitão Budá).
Foi o Cel. Augusto Cavalcanti (Augusto Mouco), que em 1917 dotou Rio Branco de seu primeiro e único cinema durante mais de 20 anos, o CINE-RIO BRANCO, onde assistiu a “cidadezinha” os primeiros filmes de Edie Polo, de Jack Perrin, de Joe Bonomo, Art Acord, Jack Holt, William Desmond, Charles Chaplin, Rodolfo Valentino, Ramon Navarro, Gary Cooper, Shirley Temple, Jackie Coogan e, entre muitos e muitos outros, “Chuca-Chuca”, Jean Darling e Joe Cob.
Em 1917, graças ainda ao espírito empreendedor do velho Coronel, Rio Branco teve também o seu serviço público de iluminação elétrica.”
Pág. 98:
...”Entre os anos de 1923 e de 1929 ou 1930, havia em Rio Branco, além do piano da residência do Cel. Antônio Japyassu, o de nosso cinema, no qual D. Amélia tocava em nossos “filmes mudos”. Dr. Romeu, seu marido, que era dentista na cidadezinha, a acompanhava em uma flauta. O da casa de D. Amélia, professora de piano na Rua do Grito. Outro na residência de Agostinho de Holanda Cavalcanti e de sua esposa D. Angelina. Outro, ainda, tenho a impressão que era na casa do Cel. Delmiro Freire.
No cinema, a partir mais ou menos de 1932, Waldemar Arcoverde e Zezé de “seu” Santino (seus empresários), instalaram uma eletrola e ouvíamos, então, em nossos velhos filmes, “A Lenda do Beijo” (de R. Soutullo Otelo e Juan Carbonell), a “Rapsódia Húngara” (de Lizt), “O Amor Cigano” (de Franz Lehar), “Brincos Dourados” (de Young), “Vozes da Primavera”, “A Valsa do Imperador” e o “Danúbio Azul” (de Johan Strauss), “Estudantina” e “Os Patinadores” (de E. Waldteufel), “A Valsa da Viúva Alegra”, “Eva” e “Ouro e Prata” (ainda de Lehar), e, entre muitas outras, a música eterna de Albert Ketelby (“No Jardim de um Mosteiro”, “Na Terra Mística do Egito”, “Num Mercado Persa”...).
Pág. 119:
“Ainda em 1928 ou no ano anterior (1927), fizeram sucesso em nosso velho “Cine-Rio Branco”, D. Cordeiro (um extraordinário ilusionista) e a Companhia Conceição Ferreira, com Aluísio Campelo, Barreto Júnior (mais tarde, nosso fabuloso Barreto, do “Teatro Marrocos”, no Recife) e Salomão Absalão. Conceição deixou um apaixonado em cada cidadezinha por onde passou no Sertão. Em Pesqueira, o Major Cândido de Brito. Em Rio Branco, Alcides Malaquias...”
Pág. 122
1929 – “O Cel. Antônio Japyassu, prefeito do Município, assina um contrato com a “Sanbra” para o fornecimento de luz elétrica a Rio Branco, que passa a ter um melhor serviço de iluminação pública e particular.
Com o velho “motor” do Cel. Augusto Cavalcanti ficávamos, vez por outra, 10, 15 e 20 dias sem luz.
Voltávamos às candeias de azeite, às velas (primitivamente de sebo, depois de cera e depois, ainda, de estearina ou de espermacete), aos bicos de “carbureto”, de ótima luz (mais utilizados em nossas casas de comércio, das 5 e meia ou das 6 às 8 e às 10 horas da noite), aos “alcoviteiros” (candeeiros de flandres, surgidos depois que na quarta década do século passado apareceu o gás líquido ou o querosene), aos candeeiros com mangas de vidro, de parede, ou de suspensão (a estes últimos chamados “candeeiros belgas”) e às lâmpadas à álcool”.
Pág. 143:
“Ainda em 1934 (dia 23 de dezembro), inaugura o Cine-Rio Branco o “cinema-falado”. Era proprietário de nossa velha casa de diversões, José Cavalcanti de Araújo (Zezé de “seu” Santino).
O filme escolhido para aquela inauguração tinha sido “O Meu Boi Morreu” (com Edie Cantor), passando, no entanto, “Viena de Meus Amores”.
Nova Yorque viu o cinema-falado em 1927, lançado pela “Warner Brothers”. O filme foi o “Cantor do Jazz”, do qual o intérprete era Al Jolson. Entrava o cinema em sua época de ouro, com o consórcio “imagem-som”.
No Brasil o “cinema-falado” foi inaugurado no Rio de Janeiro, em agosto de 1929 e no Recife, a 31 de março de 1930, no “Cine-Parque”. A película escolhida para aquelas inaugurações fora “Broadway Melody”, da Metro, com Charles King, Besse Love e Anita Page.
Uma semana antes, ou seja, a 24 de março de 1930. Inaugurava o “Cine-Parque” o cinema-sonoro com o filme “A Divina Dama”, estrelando Corine Grifth. Não havia palavras. Era somente ruídos.
O “Parque” abriu suas portas, como cinema, no dia 29 de julho de 1929, com o filme “Bem-Hur”, de Ramon Navarro, “silencioso!. Antes era somente teatro.
Pág. 163:
1947: “Nosso velho Cine-Teatro Rio Branco (de propriedade em 1950 do cirurgião-dentista Dr. Pedro de Albuquerque Pedrosa), fora reconstruído em 1941, passando a possuir então 500 cadeiras e também um serviço de alto-falante para propaganda interna (Teófanes Chaves Ribeiro, ib. págs. 34 e 35).
(ver neste: Pág. 3 e Pág.35)
Pág.195:
1964 –“Ainda naquele ano (dia 11 de setembro), é inaugurada a RÁDIO CARDEAL ARCOVERDE. Diretoria Otacílio Morais, J. Vilela, Maurício Ferraz, José Leite e outros. Em 1970 passaria para Áureo Bradley, José Áureo Bradley, Raul Cunha e, entre outros, José Henrique Filho.”

DADOS CARTORIAIS CITADOS NO ARTIGO:
Casamento Augusto Cavalcanti e Teodolina Freire – 13-Novembro de 1919
TRANSCRIÇÃO - MANTIDA ORTOGRAFIA ORIGINAL
https://bit.ly/2Ug5lWU  (alguns links podem sofrer descontinuidade)
Imagens 81/82 de 108
Livro 1 Matrimônio. Cartório de Registro Civil de Arcoverde
Aos treze dias do mêz de novembro de mil novecentos e dezenove, nesta fazenda Tamboril, 7o. Distrito do Município de Pesqueira, Estado de Pernambuco, em caza de residencia de D. Maria Pacifico de Souza Freire, ahi prezente o juiz de cazamento, o Capitão Vicente Gomes de Almeida Pires, comigo escrivão de seu cargo abaixo nomeado e assignado e as testemunhas Major Tito Magalhães da Silva Porto e Major Joaquim Cavalcanti de Albuquerque Filho, digo, Joaquim de Albuquerque Cavalcanti Filho, as dezeceis horas, receberam-se em Matrimonio, Augusto Cavalcanti de Albuquerque, viúvo, com 37 anos de idade, Brazileiro, filho legítimo do Do. André Cavalcanti de Albuquerque, e Da. Maria Emilia de Albuquerque Cavalcanti, esta falecida, e a nubente Theodolina Freire, solteira com dezecete anos de idade, profissão domestica, filha legitima do D. Antonio Freire, falecido, e Da. Maria Pacifica de Souza Freire. Declara ainda o nubente, nesta data, que dos bens que possui, tem a parte que possui na Uzina Maria das Merces, do Municipio do Cabo que esta por falecimento d´êle nubente, ficara pertencendo as subrinhas solteiras; e só isto por morte d´êle, todos os mais bens que pertence a êle nubente e são bens do cazal. Os nubentes não são parentes entre si em grau prohibido nem tem outro impedimento conhecido que osenhiba de cazar um com o outro. E do que para constar lavrei o presente termo que vai assignado por todos os nubentes e as testemunhas comigo escrivão que o fiz e escrevi e o juiz. Eu Jeronymo de Albuquerque Cavalcanti Jé Official de Registro Civil que o fiz e escrevi.
Vicente Gomes de Almeida Pires
Augusto Cavalcanti de Albuquerque
Theodolina Freire
Tito Magalhães da Silva Porto com 60 annos de idade proprietario viuvo brasileiro e residente em neste municipio, filho José Mag.es da Silva Porto e Theresa de Jesus Porto, falecidos.
Joaquim d´Abuquerque Cavalcante Filho brasileiro casado, com cincoenta e nove annos de idade proprietario e residente na cidade de Pesqueira, filho legitimo de Joaquim Albuquerque Cavalcanti falecido e de Cezina Bezerra Cavalcanti
Epaminondas Macedo Santos
Cesario Thenorio de Canço ..
Avelino de Britto Cavalcanti
João de Santa Cruz
João Francisco da Motta
Maria Pacifica de S. Freire
Doralice das Neves Santos
Theonilla Santa Cruz
Jeronymo de Albuquerque Cavalcanti Jé

Casamento da irmã mais velha de Teodolina (futura esposa de Augusto Cavalcanti) em 25 de agosto de 1917
Matrimônios 1913, abril a Dez. 1921, vol.1 Imagem 58/59/60 /108
Cartório do Registro Civil. Arcoverde - Matrimônio. Vol. 1 - Fls 108/109
https://bit.ly/3cGxCwf  (alguns links podem sofrer descontinuidade)
TRANSCRIÇÃO - MANTIDA ORTOGRAFIA ORIGINAL
Aos vinte e cinco dias do mez de agosto de mil novecentos e dezessete, nesta fazenda Tamboril do 7o. districto de Cimbres em casa de residencia de Da. Maria Pacifica de Souza Freire, ahi presente o Juiz de Casamentos, o cidadão Capitão Vicente Gomes de Almeida Pires, comigo escrivão de seu cargo abaixo nomeado e assignado, e as testemunhas, o Coronel Victorino Freire e Francisco de Albuquerque, as cinco "horas", digo as 17 dezessete horas, receberam-se em matrimônio, João Santa Cruz. Solteiro, com vinte e seis annos de idade, comerciante, filho legitimo de Theotonio da Santa Cruz e Josepha Santa Cruz, naturais de Alagôa do Monteiro, Estado da Parahyba do Norte, e o nubente é residente neste districto e Theonilla Freire, solteira, com vinte e um anno de idade, profissão domestica, filha legitima do Do. Antonio Freire e Da. Maria Pacifica de Souza Freire, naturais d´este Estado, e residentes neste districto, e estão abelitados legalmente e não são parentes entre si em grau prohibido nem tem outro impedimento conhecido que as prohiba de casar um com o outro. E do que para constar lavrei este termo que vai por todos assignados. Eu Jeronymo de Albuquerque Cavalcanti Jé Escrivão publico official do registro civil o escrevi
Vicente Gomes de Almeida Pires
João de Santa Cruz
Theonilla Freire
Victorino José Freire
Francisco de Albuquerque Britto
Theotonio de Santa Cruz
Theobaldo Freire
Jeronymo de Albuquerque Jé.

CERTIDÃO
Aristides Silvano Figuerêdo Carneiro. Primeiro Oficial do Registro de Casamentos e Escrivão em Causas matrimoniais da Comarca de Recife, na forma da lei, etc.---
CERTIFICO por me ter sido verbalmente peido, digo, pedido que dos autos da ação ordinária de desquite de João Santa Cruz com Teonila Freire Santa Cruz, consta a setença do teôr seguinte: "Vistos, etc. João Santa Cruz. Agente Fiscal do Imposto de Consumo, atualmente no Estado de Minas Geraes, propõe a presente ação de desquite com fundamento no artigo trezentos e dezesete, numeros um e três do Codigo Civil, alegando o seguinte: que sendo Agente Fiscal do Imposto de Consumo em Garanhuns deste Estado, onde era obrigado a se conservar por necessidade das funções publicas que exercia, conservava entretanto nesta Cidade, a rua da Solidade duzentos e vinte e cinco, sua esposa, Dona Teonila Freire Santa cruz, com o fim de melhor cuidarem da educação dos filhos, digo, do filho do casal de nome Fernando; que vez por outra visitava a casa da espoza; que esta traindo a fé conjugal entregou-se a pratica de atos deponentes com varios individuos, inclusive o de nome José Mariano da Silva, Comerciante nesta Cidade, o qual ultimamente pernoitava na residencia de sua espoza, quando ele autor se encontrava ausente; que por motivo de ciume em outros quasquer, a sua esposa resolveu assassinar José Mariano, e o fez de modo requintadamente perverso, que abalou sobremodo a sociedade pernambucana. que esse ciume e os antecedentes do mesmo foram cinicamente confessados pela ré ao ser preza.,
deixando ele autor em desadorada situação moral; que por esse motivo, pediu o desquite e que a sentença decretando condenasse a ré a perda do nome dele autor, a posse do filho processando-se a separação definitiva de corpos e a extinção do regime matrimonial. Citada a ré, não apresentou defeza e como se encontra preza foi dada vista ao Doutor Curador de Ausentes, como de lei. A seguir procedeu-se a audiencia de instrução, como de lei. A seguir procedeu-se a audiencia de instrução com presença do Representante do Ministerio Publico. O que tudo visto e examinado: A prova é tamanha, digo, é de tamanha eloquencia e os fatos e legados são notorios que nunhuma duvida pode existir sobre os dizeres da inicial. O adulterio, mais grave dos motivos que nossa lei civil reconhece como causa para legitimar o pedido de desquite é claro conforme declarou a ré e consta da certidão de folhas seis e sete. A repercussão que teve o fato que encerrou o drama dos amores ilicitos da ré foi tão estrondoso que constitue efetivamente injuria grave o esposo ultrajado assim sendo, é justa a pretensão do autor e por isso decreto o desquite solicitado pelo mesmo motivo, condenando como efetivamente condeno a ré a deixar de uzar o nome do autor, ficando este com o filho menôr do casal. Custas na forma da lei.P.I.R Não foi possivel despachar estes autos no prazo de dez dias em virtude da excessiva afluencia de serviços. Vae por isso no segundo prazo, conforme permite o nosso Codigo, no artigo vinte. Recife, doze de maio de mil novecentos e quarenta e um (a) José Tomaz de Medeiros Correia. Certifico mais que as folhas vinte e um consta a certidão do teôr seguinte: Certifico que decorreu o prazo para a interposição de apelação. Dou fé. Recife, trinta de Maio de mil novecentos e quarenta e um. Eu, Aristides Selvano Figuerêdo Carneiro, escrivão, o escrevi. Nada mais se continha em dita sentença, aqui bem e fielmente copiada do original, ao qual me reporto. Dou fé e assino.

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