Controvérsias no histórico de Arcoverde


HISTÓRIAS DA REGIÃO – CONTROVÉRSIAS NO HISTÓRICO DE ARCOVERDE
Pedro Salviano Filho




JORNAL DE ARCOVERDE – N. 259 – Janeiro/Fevereiro de 2011 – Pág.3



Luís Wilson de Sá Ferraz não era olho-d´água-bredense, riobranquense ou arcoverdense. Mas foi um verdadeiro filho da nossa terra, onde, nascido e vindo de Serra Talhada, viveu boa parte de sua vida e se dedicou ao estudo e registro das coisas nordestinas. A ilustração que retrata Luis Wilson, feita por Zenival, é da capa do livro “Luis Wilson. Uma biografia”, de José Otávio Cavalcanti, de 1982.

No meu tempo de Grupo Escolar Cardeal Arcoverde (hoje Escola Antonio Japiassu), na década de 1950, tive lições de civismo quando me ensinaram um pouco da história da nossa cidade, ouvindo pela primeira vez informações sobre Olho d´Água dos Bredos, Rio Branco, do primeiro cardeal da América Latina.
Imagino que os guardiões da nossa cultura, da nossa história, já tenham se debruçado sobre a análise da origem dos dados do nosso município. Mas fico confuso quando vejo certas informações, repetidamente difundidas em sites da web, reproduzindo alguns registros já contestados por alguns pesquisadores. Quem está certo? Onde está a verdade?
De outra forma, o sucesso da trilogia 1808, 1822 e 1889 (este último livro ainda em elaboração), do autor Laurentino Gomes, é um exemplo de que a história sempre está sendo resgatada. Com novos dados captados, novos registros e análises, essas informações corrigidas passam a compor um histórico mais fidedigno.
O IBGE publicou durante os anos 1957-1964 a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros https://bit.ly/2TXeeof e, no que concerne a Arcoverde (pág. 47), apresentava muitos erros que, dali emanados, parecem persistir.
Veja que o próprio site do IBGE começa afirmando sobre o atual município de Arcoverde:(http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/pernambuco/arcoverde.pdf ): “Em plena caatinga, nas proximidades da serra da Aldeia Velha, surgiram as fazendas Bredos e Olho d'Água, pertencentes a João Nepomuceno de Siqueira Melo e Manoel Pacheco do Couto.”
Em 1972 o pesquisador Luís Wilson (MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE), arcoverdense de coração, já contestava esta série de enganos nas fontes do IBGE:


Em primeiro lugar, não existiu uma fazenda chamada Olho d'Água, de Manuel, ou de Leonardo Pacheco do Couto. Quando desembarcou, provavelmente, no Recife, no primeiro quartel do século passado, e tomou o rumo do sertão, a fazenda que o português Leonardo Pacheco do Couto fundou foi a Santa Rita, o que me foi contado, faz alguns anos, pelos dois únicos netos de Leonardo Pacheco do Couto, ainda vivos, Antônio Napoleão Pacheco e José Duque, ancianidades venerandas, possuidoras de uma memória de fazer inveja e que levarão consigo, no dia em que forem embora desta vida, páginas e páginas da mais antiga história do sertão. Hoje, uma pequenina parte, naturalmente, da primitiva fazenda Santa Rita pertence aos herdeiros do major José Amaro ou aos de sua viúva, "comadre" Ananias, falecida há 2 ou 3 anos. Abrangia a antiga propriedade uma grande área, vinda até aos atuais quadros urbanos e suburbanos da progressista cidade de Arcoverde, limitando-se com a fazenda Bredos, de João Nepomuceno de Siqueira Melo (João dos Bredos), na Boa Vista. A residência de Leonardo Pacheco do Couto ficava a 7 ou 8 quilômetros de Rio Branco, na estrada da antiga fazenda Puxinanã (velha Conceição da Pedra, depois, Pedra de Buíque e, hoje, Pedra), próxima à casa grande da fazenda Fundão, de Jerônimo de Albuquerque Cavalcanti Arcoverde, pai do conhecido, e falado em toda aquela região, Cap. Budá, Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti. Havia, sem dúvida, um "olho d'água" (não uma fazenda Olho d'água), que daria, juntamente com o nome Bredos, da fazenda de João Nepomuceno de Siqueira Melo, a primeira designação a Arcoverde: "Olho d'Água dos Bredos". Nenhum "olho d'água", naquela redondeza, emprestou, no entanto, o nome para a fazenda de Manuel ou de Leonardo Pacheco do Couto, porque não existiu naquele mundo uma fazenda "Olho d'Agua", de Manuel ou de Leonardo do Couto. Há quem diga que "o olho d'água", que daria a primeira designação a Rio Branco, juntamente com o nome da fazenda de João dos Bredos, ficava no local onde, em 1919, o Dr. Brandão Cavalcanti construiu os edifícios de "Pinto Alves e Cia" (vendidos depois à Sanbra). Dizem outros que era na rua Velha. O velho "olho d'água", para mim, é o de "seu" Jé, o de "compadre" Jé.”.


No citado livro, Luis Wilson diz que “Theófanes Chaves Ribeiro, na monografia ‘O Município de Arcoverde’ (Prima Editora, Arcoverde-PE, 1951 [na web em https://bit.ly/2BqO6vy ])  escreve também o seguinte: ‘Em data que não nos é dado precisar, surgiram, em meio à caatinga bravia, as fazendas Bredos, pertencente a João Nepomuceno de Siqueira Melo, e Olho d´Água, a Manuel Pacheco do Couto, este português, ambos criadores e agricultores, que nesta zona encontraram ambiente propício para se desenvolverem etc. Comete Chaves Ribeiro o mesmo engano da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, no que se refere à fazenda Olho d´Água e a Manuel Pacheco do Couto. Não consta, no entanto, de sua monografia, escrita em 1951, sete anos antes da publicação da obra oficial, aliás uma grande obra, que o primeiro prefeito de Arcoverde tenha sido Adelino Pedro Galindo e sim o Cel. Antonio Japiassu”.
E o documento do IBGE prossegue:
Em 1865, Leonardo Couto, filho de Manoel Pacheco do Couto, criou o povoado de Olho d'Água dos Bredos, quando doou terras e construiu a capela de Nossa Senhora do Livramento.”
 E isto também foi rebatido pelo Luís Wilson, em 1972:
 Em segundo lugar, Manuel Pacheco do Couto não era pai de Leonardo. Leonardo Pacheco do Couto é que era pai de Manuel. Manuel, não era português. Nasceu na fazenda Santa Rita, como os seus outros irmãos. Seu pai, Leonardo Pacheco do Couto é que era natural da Ilha de São Miguel (em Portugal), onde tinha propriedades, das quais continuou a receber rendimentos após sua vinda para o Brasil, como nos conta Orlando Cavalcanti, em sua "Síntese da Linha Cardeal Arcoverde, Ramo Bento Leite Inocência Cavalcanti", no Diário de Pernambuco, por ocasião do centenário de nascimento de D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti”.

E as informações do IBGE, multiplicadas em vários portais, blogs e sites pela web, persistem assim:
Em 1909 Olho d'Água dos Bredos tomou o nome de Rio Branco. Com a criação da agência postal e a inauguração da Estrada de Ferro ligando-o à Capital do Estado, intensificou-se o comércio e, em 1928, Rio Branco elevou-se à categoria de Município. Teve o nome mudado para Arcoverde, em 1943, homenagem a D. Joaquim de Albuquerque Cavalcanti Arcoverde, nascido no lugar e o primeiro Cardeal da América Latina.
Eita! Como vimos na matéria “A Great Western” desta coluna, da edição 257 do Jornal de Arcoverde (outubro de 2010), a inauguração da estação de trem ocorreu em 13 de maio de 1912 e já mostrava o novo nome BARÃO DO RIO BRANCO que Luís Wilson ressalta vir a substituir oficialmente o de OLHO D´ÁGUA DOS BREDOS:
 “... não sabemos se por ato do Governo do Estado, dois ou três meses depois de inaugurada ali a estaçãozinha da Great Western”.
Mas o próprio texto do IBGE complementa com:
Formação Administrativa: Distrito criado com a denominação de Rio Branco, pela lei municipal nº 18, de 12-11-1912, subordinado ao município de Pesqueira. Elevada à categoria de vila com a denominação de Rio Branco, pela lei estadual nº 991, de 01-07-1909, desmembrado de Pesqueira.
Voltamos a recorrer a Luís Wilson, agora no seu livro MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, de 1982, que documenta:
“1909 – A Lei Estadual n.991, de 1º de julho, eleva a povoação de Olho d´Água dos Bredos à categoria de “vila”; 1910 – É instalada uma Agência Postal em Olho d´Água dos Bredos;  Não existia Município de Pesqueira em 1909. O Município era Cimbres. Só em 1913 o nome ou o topônimo “Pesqueira”, designação da localidade, sede do Município de Cimbres desde 13.05.1836, passou a ser também o nome do Município de Cimbres, ficando só a partir de então (1913), “Pesqueira” o Município (até aquele ano Município de Cimbres) e “Pesqueira” o seu 1º distrito e sede”.
 Ainda no mesmo livro:
“No dia 11 de setembro [de 1928], a Lei 1.931 do Senhor Governador do Estado, Dr. Estácio Coimbra, eleva a “vilazinha” de Rio Branco à categoria de cidade e município do mesmo nome, sendo eleito a 30 de setembro do mesmo ano nosso 1º prefeito, o Cel. Antonio Japyassu, que tomou posse a 15 de novembro”.
No seu MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, o filho de Noé Ferraz ainda nos presenteia com essas preciosas e esclarecedoras informações:
Em 1944, pelo Decreto-Lei Estadual nº 952 de 31 de dezembro de 1943 Rio Branco teve o seu topônimo modificado para Arcoverde. Homenagem a D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, primeiro Cardeal da América Latina, em 1905. Quando da revisão toponímica, realizada em 1943, por força de um decreto federal, cuja finalidade era acabar (como o fez), com as duplicatas dos nomes de cidades e vilas, em todo o país, o nome que havia sido escolhido para Rio Branco fora “Bredos”. Rio Branco não podia continuar, por já existir um nome mais antigo que o nosso, no Acre. Antônio Napoleão Arcoverde pensou em dois nomes, um dos quais Tacá. Lembrado pelo historiógrafo José de Almeida Maciel (“seu Cazuzinha", da Loja Sant´Águeda, em Pesqueira), surgiu o nome Arcoverde. Esta denominação, no entanto, era, a da vila de Mimoso (o secular Mimoso das Bulhas), pertencente a Pesqueira), surgiu o nome Arcoverde. A dificuldade, todavia, era haver também, em Santa Catarina, outra cidade com o nome de Arcoverde. Mário Melo, membro da Comissão encarregada da Revisão Toponímica do Estado de Pernambuco, solicitou, então, à Comissão de Santa Catarina, que abrisse mão da denominação de “Arcoverde” para o Estado de Pernambuco, no que foi atendido. O nosso secular “Mimoso” (que havia sido também denominado “Freixeira”), voltou ao seu primitivo nome. E, assim, como homenagem a D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti é que somos, hoje, Arcoverde”.
Para esclarecer melhor, obtive da Assembléia Legislativa cópias das leis e decretos mencionados acima e as coloquei à disposição dos leitores na web, que podem ser acessadas pelo link https://bit.ly/2ZX9NO5
 



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