Olhando para trás
Artigo Especial – Pedro Salviano Filho
JORNAL DE ARCOVERDE –
Edição 252 – Março de 2010. Caderno 2, pág. 2
O Enaldo Cândido, diretor deste jornal, que tem olhos de
preservar a história, pediu-me que escrevesse algo sobre as minhas
reminiscências em relação ao Cinema Bandeirante. Como filho de Arcoverde,
fiquei orgulhoso de poder relatar aspectos daquele tempo que possam vir a
encantar nossos leitores da mesma forma que me encantam. Ainda não fiz isso, mas enquanto espremia
minha memória mais antiga para começar um esboço entrei em férias. No
aeroporto, em lugar de fazer palavras cruzadas, por exemplo, optei por ler uns
livros que havia adquirido num sebo eletrônico. Foi aí que uma nova e
interessante experiência teve início na minha vida e que acabou envolvendo uma
porção de pessoas: o conhecimento da história de Arcoverde e região, e também
dos meus antepassados. Assim, fui me empolgando e as férias nem bem haviam
começado e já tinha lido parte da coleção dos livros do arcoverdense Luís
Wilson, filho do Noé: “Minha cidade, minha saudade”, “Município de Arcoverde”,
“Ararobá, lendária e eterna”, “Roteiro de velhos e grandes sertanejos” etc. Com
tantas novas informações, aumentou a curiosidade sobre a minha genealogia: quem
foram meus parentes, como aconteceu a colonização da Pedra, local onde meus
pais se desenvolveram? Na Internet vi que esse negócio de conhecimento da genealogia
está em alta. Muitas listas de discussão falam sobre o assunto, há muita gente
pesquisando. Até o Google lançou um programa e disponibilizou espaço para que
se faça com facilidade sua árvore genealógica, bonitinha e sem complicação.
Eu me lembrei que um primo já havia publicado alguma coisa
que falava sobre meus parentes. Ah... Era o livreto “Conceição da Pedra. Um
retrato em branco e preto da aristocracia rural do Sertão pernambucano”. E o
reli várias vezes. Mais curiosidades ainda. Eu já tinha conhecido uns primos da
minha esposa que andaram pesquisando nas casas dos parentes, pedindo
documentos, fotos e muitas outras informações. Algumas pessoas os chamavam de
esquisitos ou meio doidos por saírem de cidade em cidade perdendo tempo com
isso... Mas depois vi o resultado do
trabalho deles - e que trabalhão-, conseguindo ordenar tantos parentes, filho
de quem, com casado com...
Navegando pela web
encontrei o “Ícones. Patrimônio cultural de Arcoverde”, um belo livro do
saudoso Roberto Moraes, meu contemporâneo, e logo encomendei um. E a
curiosidade por tudo só foi aumentando. Coletando aqui e ali uns documentos
antigos, atestados de nascimento, de óbito, de casamento fui tentando
esquematizar tudo para dar uma lógica na minha árvore, que apesar do esforço,
ficou bem pequena, anã. Ainda em férias, resolvi ligar para os cartórios da
Pedra para obter mais documentos. Uma dificuldade. Como contornar minha
ansiedade com a pouca disponibilidade de tempo do pessoal do cartório? Aí
recorri ao cartório 24 horas da internet. Não ajudou muito porque ali também
demora a entrega dos documentos. Outra opção foi recorrer aos parentes mais
velhos, esparramados pelo Brasil. Telefonema pra lá e pra cá e, a não ser a
interessante retomada de contatos perdida com alguns familiares há tantos anos,
tive pouca informação, pois mesmo as lembranças antigas, mais frequentes nos
idosos, pareciam se perder com o tempo. Voltei para a internet e recomecei a
busca de mais dados. E, finalmente, fiz um grande achado: muitos livros do registro
de cartório da Pedra estavam disponíveis num site dos Mórmons. Coisa nova,
recém lançada, contemplando justamente Pernambuco e Rio de Janeiro (e bem
recentemente, também, Paraíba). Uêba! Passar página a página, sem cheiro de
naftalina, sem me preocupar em danificá-las, na hora que quiser e,
principalmente, sem sair de casa... Tentar decifrar aquelas letrinhas
manuscritas no início da República é mais uma faceta deste novo hobby. A linguagem antiga, expressões em
desuso, os rabiscos de alguns escrivães dos registros e os enigmáticos nomes
foram me envolvendo ainda mais nessa função de transcrever os dados cartoriais
e encaixá-los no excelente MyHeritage,
do Google, montando assim um quebra-cabeças mais lógico, coerente com o
“preto-no-branco”. Ao mesmo tempo, uma consulta aos livros foi permitindo fazer
inserções lógicas dos parentes na montagem da árvore, que então começou a
crescer. Um contato com um primo que há mais de 50 anos não nos víamos me deu
uma nova luz. Ele havia gravado entrevistas com três tias nossas, já falecidas,
e que trouxeram bastante informações novas, exatamente as que me faltavam.
Estes dados cruzados, ao contrário das informações lineares do cartório (filho,
pais, avós), foram fundamentais para prosseguir na construção da linhagem. E,
gentilmente, ele começou a me enviar as transcrições daquelas preciosas
gravações, contendo muitos apelidos, costume de hoje, mas também muito mais
comum naqueles tempos: fulano era pai do Badu e do Dodô; Sulú era casada com
Quininho..., e por aí vai. E desse primo recebi o livro DOCE PEDRA, do qual já
sabia da existência, mas não havia encontrado nos sebos e que veio a se somar a
outros que havia encomendado: “Pesqueira e o antigo termo de Cimbres”,
“História de Garanhuns”, “Caboclos do Urubá” e “Cronologia pernambucana”. A
“brincadeira” começou a estimular os primos que se telefonam (aqueles mais
modernos se comunicam pelas mensagens da internet), oferecendo mais subsídios
para esclarecimentos cada vez mais interessantes. Cada descoberta foi sendo compartilhada
e provocando, muitas vezes, admiração. Além disso, o rastreamento nesses livros
de cartórios ofereceu muitas outras informações que foram compondo um novo
cenário na verdadeira história da região, pois os mórmons, paulatinamente,
estão inserindo imagens de novos livros, novas cidades e estados em todo o
mundo.
No momento, aguardo com expectativa os livros
da igreja (católica) da Pedra para permitir um mergulho maior no tempo. Ela tem
os registros mais antigos, pois os cartórios, como disse, começaram com a
República, em 1889. Pena que os livros de tombo não estejam também, ao que eu
saiba, disponíveis pela web. Por
outro lamento a Pedra não ter suas ruas e localidades disponíveis no Google
Earth, pois isso facilitaria o arranjo dos nichos familiares. O site que está sendo elaborado para minha
família está em http://www.myheritage.com.br/site-76561591/lanta;
nele, no “observações & fontes”, estão as transcrições dos livros de
cartórios. Certamente elas interessarão aos ramos que desejam aprofundar a
pesquisa. Com essas novas ferramentas disponíveis na web - especialmente o site dos mórmons http://pilot.familysearch.org/recordsearch/
- ficou mais fácil buscar outras informações olhando para trás, trazendo fatos
interessantes para juntarem-se aos nomes dos familiares, reconstruindo o
contexto em que eles se desenvolveram: a época do ciclo do gado, com as
fazendas e os criadores, a inauguração da ferrovia em Arcoverde em 1912 com a
correção do traçado original que, por motivos políticos, mudou a história e
alavancou o nosso município. Quantas famílias se mudaram para cá por este
fato... Mas isto é outra história.
Complementando NOSSA HISTÓRIA – MEMÓRIA DO RÁDIO, Jornal de
Arcoverde, outubro de 2009 – Página 11.
Por questão técnica foram omitidos os endereços dos links que permitem
os leitores acessar, via web, às gravações citadas no artigo, realizadas em
1965-67.
Teatrinho infantil Bandeirante https://bit.ly/3gdfYFN
Entrevista 1965 https://bit.ly/3mPOOWO
Grande Jornal Falado Bandeirante https://bit.ly/32f1opd
Comentários
Postar um comentário