Olho d´Água
JORNAL
DE ARCOVERDE n.282 – Novembro/Dezembro de 2014 – pág 19
Olho d´ Água 1812 - 1856
Pedro Salviano Filho
O aumento
constante de informações antigas disponibilizadas na web tem permitido o
encontro de novos dados que exigem uma retomada de como teria ocorrido a
história da nossa região.
Assim, a
partir de fontes primárias e práticos links (ex. http://hemerotecadigital.bn.br/ ) convido os leitores a me acompanharem na apresentação de mais alguns
dados na linha do tempo.
Como é
sabido a nossa cidade já teve outros topônimos, desde Olho D´Água (1812-1856),
Olho d´Água dos Bredos (1856-1912), Rio Branco (1912-1943) a Arcoverde (1944).
O foco
deste artigo é mostrar uma nova data para o registro mais antigo de “Olho
d´Água dos Bredos”, além de informações pouco conhecidas da época em que aqui
havia pouquíssimas casas.
Já vimos que
o registro do nome mais antigo, “Olho d´Água”, é de 1812 e,
possivelmente por existirem outros nomes iguais na região, foi incorporado o
“dos Bredos” (ver https://bit.ly/3cSuE7Z ) no meado daquele século 19. Agora uma data
mais precisa é mostrada: 5 de junho de 1856.
O jogo do
poder político muito influiu sobre a região. Como já sabemos, Cimbres foi por
muito tempo a base da nossa colonização. E procurar entender alguns fatos
estabelecidos na história é imprescindível para a compreensão do contexto. Os
leitores interessados podem se aprofundar no tema “História de Pesqueira” no
interessante site http://goo.gl/Li5ydx.
A disputa
entre Cimbres e Brejo da Madre de Deus, por dois capitães-mores agregados,
Manoel José de Siqueira e Francisco Xavier Pais de Melo Barreto pode ser
sentida por uma correspondência de um sobrinho de Siqueira ao Diário de
Pernambuco de 1 de fevereiro de 1830 http://goo.gl/rOoznE .
Já a
representação da câmara da Vila de Cimbres, de 1813, manifestando-se contra a
elevação do Brejo da Madre de Deus à Vila e requerendo a extinção da tutela dos
índios locais pode ser vista nesta ata em http://goo.gl/m2qPzV .
E a
definição política foi a criação da comarca do Brejo em 1833: http://goo.gl/TGsSGy "Ata da sessão ordinária do conselho
do governo [...] Em observação do art. 3º [...] fica esta província de
Pernambuco dividida em 9 comarcas, cujas cabeças serão: cidade do
Recife,[...] vila do Brejo[...] pág. 2: [...] Art.8 º A comarca do Brejo
abrangerá os termos das Vilas do Brejo, Cimbres e Garanhuns[...]".
A explicação
para a confusa relação Cimbres X Pesqueira já foi mostrada em https://bit.ly/2YCYLuV (página 2/9). Assim, a simples transferência do
local da sede (Cimbres para Pesqueira), sem a formal criação da vila de
Pesqueira, foi efetivada pela lei provincial n º 20, de 13 de maio de 1836,
veja em http://goo.gl/i9mbSX “[...] Francisco de Paula Cavalcanti de
Albuquerque, presidente da província de Pernambuco: Faço saber a todos os seus
habitantes, que a Assembleia Legislativa Provincial decretou, e eu sancionei a
resolução seguinte: Art. único: A sede da vila de Cimbres passará para a
povoação de Pesqueira... “. Somente em 1872 o termo Cimbres foi elevado à
categoria de comarca, pela lei provincial n.1.057 (http://goo.gl/QiGKFW ).
Em 1840
(http://goo.gl/vGCZzD , na primeira
coluna) era nomeado o cidadão Jerônimo de Albuquerque Arcoverde para o cargo de
subprefeito da freguesia de Cimbres, termo da comarca do Brejo, tendo falecido
em 1843 (Minha cidade, minha saudade, de Luis Wilson, 1972,
pág.55). Ele era pai de Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti, o
capitão Budá, citado muitas vezes nesta coluna.
Em 1843
é apreciado o projeto (http://goo.gl/UeJiw6, segunda coluna). E a Lei 111 é assinada (http://goo.gl/oZbqWn ) criando “A nova freguesia d´Alagoa de Baixo, em Moxotó, [que] fica
doravante pertencendo inteiramente ao termo e município de Cimbres, na comarca
do Brejo. 2 maio de 1843”.
Em 1844
era essa a divisão judiciária do império de Pernambuco, apresentada no link:
http://goo.gl/1Gf1oE “ É dividida esta província em 13 comarcas 9 [...] que acham-se divididas
em 14 termos: Recife, Brejo e Cimbres“ etc. No ano seguinte (http://goo.gl/iUYHRS ) as estatísticas mostravam os números de municípios, freguesias,
fogos e almas.
A Assembleia
provincial, na sessão de 14 de março de 1852 (http://goo.gl/TB6KK9 , segunda coluna) discute sobre “[...] os
receios que se manifestaram aqui sr. presidente, de que, decretada a remoção da
sede da freguesia de Cimbres para a povoação de Pesqueira [...]”. Na sessão de
23 de março daquele ano (http://goo.gl/T4sz4B ) mais discussão na câmara sobre vantagens e
desvantagens de transferência de matriz de Cimbres para Pesqueira. [ Na 3ª
coluna: ...] “Pelo lado do poente acha-se na distância de 6 léguas da vila de
Cimbres e 10 de Pesqueira a povoação de Olho d´Água”[...]”.
Ainda no ano
de 1852 (http://goo.gl/mV1zpw ) sai o Decreto N. 671 de 13 de setembro que “altera
a divisão dos colégios eleitorais de diversas províncias feita pelos
respectivos presidentes em virtude do art. 63 da lei de 19 de agosto de 1846.
[...]. O da vila de Cimbres, composto dos eleitores das freguesias de Nossa
Senhora das Montanhas, de Cimbres e de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa de
Baixo...".
Já em 11 de
outubro de 1852 (http://goo.gl/raVVWl ) sai o resultado da votação para juízes de paz do
primeiro distrito da vila de Pesqueira [coluna 3]: Para juízes do segundo
distrito de Olho d´Água: Cap. Antônio Francisco de Albuquerque [cap.
Budá] - 50 votos, Cândido José de Sequeira - 48, Joaquim de Sequeira Barbosa
40, Tertuliano Severino Pereira de Souza 25, João Nepomuceno de Mello 17, José
Alves da Costa 16, Victorino José do Couto 10 e Pantaleão Marcolino Pereira de
Mello 8. Apresenta também a lista dos mais votados para vereadores.
A
denominação de Olho d´Água dos Bredos aparece, como a mais antiga citação até agora encontrada, em 5 de junho de 1856
em http://goo.gl/NchH7w (sétima
coluna, resumo) numa citação de cólera em Olho d´Água dos Bredos "... ainda
não tinha partido para a capital o cowboy do capitão Hypólito, já o
cólera-morbos já há um mês se desenvolveu no Salobro desta freguesia em
distância de quatro léguas desta vila, fazendo por ali as primeiras vítimas, e
no Olho d´Água dos Bredos, do termo Cimbres; presumindo-se que desses
dois lugares, vindo ao Carneiro, daqui duas léguas e meia, onde apareceu a
primeira vítima que deu lugar..."
O Decreto
N.1792 de 26 de julho de 1856 (http://goo.gl/it27VO , terceira coluna) “Divide a província de Pernambuco em distritos
eleitorais, e designa os lugares e edifícios em que devem reunir-se os
eleitores de cada um dos distritos, de conformidade com as disposições do
decreto n. 842 de 19 de setembro de 1855, e tendo ouvido o presidente da
província de Pernambuco, hei por bem decretar: Art. 1. A província de
Pernambuco fica dividida em treze distritos eleitorais, do modo seguinte: [...]
Parágrafo 12. O décimo segundo distrito terá por cabeça a vila do Brejo e se
comporá de dois colégios, que se reunirão: o 1. na matriz da mesma vila e o 2.
na vila das Flores. O primeiro colégio compreenderá as paróquias de S. José da
vila do Brejo da Madre de Deus, e de N.S. das Montanhas de Cimbres; e o segundo
colégio as de N.S. da Conceição do Pajeú de Flores, de S. José da vila de
Ingazeiras, de N.S. da Conceição da Lagoa de Baixo e de N.S. da Penha de Vila
Bela.”
Um mapa de 1859
mostra a distância (em léguas) entre as principais comarcas e freguesias de
Pernambuco e pode ser visto em http://goo.gl/Z62Lvh .
Ainda em 1859,
na sessão ordinária em 18 de março, sob a presidência do Sr. Barão de
Camaragibe, http://goo.gl/USGx3z terceira coluna: “[...] Outro [requerimento]
dos moradores do distrito de Olho d´Água dos Bredos, pedindo que sejam
removidos os gados que pastam naqueles lugares, por serem terrenos próprios
para plantação - A comissão de negócios das câmaras[...]”. E isto parece
refletir a popularização do novo topônimo que vai, aos poucos, substituindo o
simples “Olho d´Água”.
Em 20 de
abril de 1859 um manuscrito do Ofício da Mesa Eleitoral de Cimbres ao
ministro do Império, enviando atas de eleições e lista de cidadãos qualificados
votantes (http://goo.gl/PYQDx0 ), mostra
quais os eleitores de todos os quarteirões daquela área eleitoral. A lista
contida na ata da junta revisória de 16 de janeiro de 1858 cita os quarteirões
de Cimbres: Primeiro quarteirão de Pesqueira, 2 º da Serra, 3 º de Pão de Açúcar,
4 º de Acaí, 5 º de Sanharó, 6 º de Afetos, 7 º de Cimbres, 8 º de Flexeiras, 9
º do Olho d´Água, 10 º de Macaco, 11 º de São João, 12 º de
Juazeiro, 13 º de Periperi, 14 º Alagoinha, 15 º da Barra e 16 º do Carrapicho.
Eis a lista
do 9 º quarteirão do Olho d´Água, transcrita (ortografia atualizada) do
mencionado documento: Antônio Pacheco Couto, Antônio Inácio Correia, Antônio
Luís da Costa, Cândido José de Siqueira, Cândido Gomes da Silva, Clemente José
de Albuquerque, Clemente Soares Porto, Domingos José de Parra, Domingo Gomes da
Silva, Francisco Luís Pessoa, Francisco Venâncio, Francisco Gomes da Silva,
Francisco Vaz, João Antônio dos Santos, Isidoro José dos Santos, Isidoro Pessoa
da Silva, João Nepomuceno de Mello, João Nepomuceno de Mello Junior, João
Manoel Bezerra, Joaquim Antônio da Silva, Joaquim José de Finade, José Pereira
da Silva, José de Barro Souza, Joaquim Antônio da Silva Junior, João Domingues
da Silva, José Pacheco Couto, João Pulquerio dos Santos, José Monteiro da
Silva, José Monteiro Carvalho Couto, José Francisco d´Azevedo, Lourenço
Monteiro Cavalcanti, Manoel Felix da Silva, Manoel Leite de Brito, Manoel
Inácio Gomes, Manoel Pacheco, Manoel Alves Porto, Pantaleão Nepomuceno de
Mello, Sérvulo José Freire, Teófilo Nepomuceno de Mello, Victorino José de
Couto.
Serra da Caiçara
Serra do Retiro – Fotos de J. Randolfo Britto
Dois símbolos de Arcoverde são as Serras da Caiçara e do Retiro. Elas
sempre estão nos selfies da cidade,
porém parecem que só inconscientemente existem: nenhum hotel, rádio, casa
comercial etc. usufruem desses sobrenomes... E, na verdade, elas estão na base
da nossa história. Na pág. 54 do "Minha
cidade, minha saudade", de Luís Wilson: "...Manuel Pacheco do
Couto, quinto filho de Leonardo Pacheco do Couto, casou com Bárbara Nepomuceno
de Siqueira Melo, filha de João dos Bredos, de cuja residência restaram ruínas
até alguns anos passados, ao pé da Serra
da Caiçara, na Boa Vista, um pouco mais além do sítio Cajazeiras, que de
início pertencera ao Cel. Augusto de Albuquerque Cavalcanti, pai do "seu
Jé",,," (ao que parece, tanto o Manuel Pacheco foi envenenado a
partir da esposa, como também o João Nepomuceno de Mello – João dos Bredos (o
link http://goo.gl/0U5HIe mostra ele como jurado em 1839, na comarca do Brejo; em 1852 recebe votos
para juiz de paz http://goo.gl/raVVWl e http://goo.gl/0kt7ne remete a dezembro de 1861, quando foi
registrada a sua morte).
Do livro Minha cidade, minha
saudade, de Luis Wilson, pág.205, foto de 1925 mostrando ao fundo a Serra
da Caiçara.
Mais artigos desta coluna: https://bit.ly/3dRcIMi
Planilha completa, entrar em: https://bit.ly/3giyvOn
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