Sertânia no tempo de Alagoa de Baixo e outras reminiscências
JORNAL DE ARCOVERDE – Edição 256 –
Agosto/Setembro de 2010 – Caderno 1 – pág. 3
Pedro Salviano Filho
Imagine uma população de cerca de menos de 500 pessoas vivendo em
Alagoa de Baixo, por volta do ano 1900. É o que relata Ulysses Lins de
Albuquerque, que lá nasceu em 1889. No seu livro MOXOTÓ BRABO, de 1960, ele
escreveu: “A Vila naquele fim de século tinha noventa casas no máximo (muitas
delas fechadas), inclusive umas meia-águas, constituíam a vila de Alagoa de
Baixo, até 1899... Menos de 500 habitantes, que eu logo contaria, mentalmente, procedendo a um
recenseamento que me decepcionava... Algumas mercearias - bodegas, na maior
parte - dentre as quais a de João Alves de Holanda, a de João Laerte
Cavalcante, a de Sérvulo Freire, a de Joaquim Gago e a de Veríssimo Caboclo... Em 1899 uma
calamidade alarmou a vila: a febre amarela - ou tifo - que ceifou muitas
vidas... O comerciante Sérvulo Freire, foi vítima também da epidemia...”.
Grifei em
negrito três nomes. O João Alves de Holanda era irmão do meu avô materno, Manoel Alves do
Nascimento, filho de Manoel Alves de Holanda e Bernardina Francisca Freire. O Sérvulo Avelino Freire, filho de
Januário Avelino Freire e Antonia Alves Freire, era casado com Antonia Alves
Freire, minha tia. Ela e minha mãe, Terezinha Alves do Nascimento (depois de
casada, Salviano), eram filhas do já mencionado Manoel Alves do Nascimento e de
Ana Alves do Nascimento, ambos nascidos na fazenda Soares (Tenho impressão que
o Veríssimo Caboclo era o irmão do João Alves de Holanda que no registro se
chamava Veríssimo José Freire,
casado com Maria Tereza das Virgens).
Meus avós, Manoel e Ana, foram morar na Fazenda Milhoré onde tiveram muitos filhos, coisa comum naquela época. Como também foi comum o quase obrigatório abandono da terra natal na busca da sobrevivência. Não bastassem as epidemias, a seca era um fator muito agravante.
No começo deste ano comecei a pesquisar a genealogia familiar e, além de encontrar tantas informações sobre minha parentada que já faleceu, pude contatar muitos primos, reatando amizades perdidas pelo tempo e também estabelecendo novos vínculos. Pelo lado materno conheci virtualmente uma prima que reside em Recife: Maria Thereza Bezerra, minha agora querida Tk. E ela aderiu à minha busca familiar. Metódica e inteligente, logo dominou o rastreamento cibernético pelos livros cartoriais, descobrindo preciosidades pelos registros de Alagoa de Baixo e Garanhuns. Parte dessas informações do lado materno é que permitiram estes novos conhecimentos.
Foi Garanhuns o destino de Manoel/Ana e seus filhos. Assim, tocados por tantos fatores, estabeleceram-se na famosa Rua da Areia (hoje Sátiro Ivo). E isto na primeira década do século passado, há pouco mais de 100 anos, quando a pecuária e a agricultura eram as principais atividades de então e o comércio de cereais a opção da maior parte dos recém-chegados.
Na década de 30, o meu pai, Pedro Salviano de Albuquerque, também deixava sua cidade natal, Pedra-PE, para tentar nova vida em Garanhuns, estabelecendo-se no ramo do comércio de cereais e na mesma rua da Areia (assim como vários outros parentes, como pude descobrir pelos livros dos cartórios e informações de parentes). Obviamente lá conheceu minha mãe, casaram-se e tiveram meus dois irmãos mais velhos (João Fernando Salviano e Ana Maria Salviano); a minha irmã Sônia Terezinha Salviano já nasceu na fazenda Caldeirão, no município da Pedra, comprada com os recursos conquistados em Garanhuns.
Assim como o meu avô Francisco Salviano de Melo Lanta, o meu pai tinha uma boa visão de futuro e achava que o que de melhor poderia deixar para os filhos era o estudo. E isto o fez mudar-se para Arcoverde, onde eu viria a nascer no finzinho da primeira metade do século passado.
Sertânia surgiu de uma fazenda, cuja sede se situava a uns 300 m ao sul da Lagoa de baixo – à margem do Rio Moxotó, como conta Ulysses Lins, no já mencionado livro: “assim chamada por existirem a uns dois quilômetros acima duas outras lagoas”. Há exatos 200 anos, em 1810, teve início, naquela fazenda, o núcleo da povoação de Alagoa de Baixo.
Alfredo Leite Cavalcanti nos revela, no “História de Garanhuns”, que a ferrovia chegou àquele município de 1887 e que transformou para melhor a vida daquele município. Diz também que “a povoação da Fazenda de Lagoa de Baixo foi elevada à categoria de vila e sede do município em 24 de maio de 1873, desmembrando-se seu território, supomos, das terras do município do Buíque, tendo sido moroso o seu desenvolvimento, até ser atingido pela estrada de ferro, quando `desemperrando`, progrediu rapidamente, passando, com a denominação substituída pela de Sertânia, a figurar entre as mais adiantadas cidades do sertão de Pernambuco”.
E o mesmo progresso aconteceu em 1912 em Rio Branco, hoje Arcoverde, devido à chegada dos trilhos. Em Sertânia (ainda Alagoa de Baixo) a estação ferroviária foi inaugurada em 1933 e foi ponta de linha por 8 anos.
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